Ex-directora reage a acusações sobre banco de sangue do cordão umbilical

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Entre as acusações, estão a de embalagens fora do prazo de validade Manuel Roberto

As afirmações, feitas na Comissão Parlamentar de Saúde, são, contudo, contestadas pela ex-directora do banco e do Centro de Histocompatibilidade do Norte (CHN), Helena Alves, que pede a intervenção do Ministério Público.

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As afirmações, feitas na Comissão Parlamentar de Saúde, são, contudo, contestadas pela ex-directora do banco e do Centro de Histocompatibilidade do Norte (CHN), Helena Alves, que pede a intervenção do Ministério Público.

O pedido de audição foi feito pelo Bloco de Esquerda, na sequência da notícia, há cerca de dois meses, da suspensão da colheita de sangue do cordão umbilical pelo Lusocord, que faz a preservação de células estaminais utilizadas no tratamento de muitas doenças do foro hematológico. A suspensão, disse na altura Hélder Trindade, tinha em vista a promoção das “inspecções necessárias ao completo esclarecimento” de situações irregulares “e apuramento de eventuais responsabilidades”. A medida apanhou de surpresa Helena Alves, que dirigira o Lusocord e o CHN até ao dia 23 de Agosto, data em que ambas as estruturas passaram para a tutela do IPST (e em que este passou a ser dirigido por Hélder Trindade, que antes coordenava o Centro de Histocompatibilidade do Norte).

Perante a comissão parlamentar, aquele dirigente do ISPT denunciou que no Lusocord foram encontrados kits para recolha de sangue do cordão umbilical guardados junto a sanitas, embalagens fora do prazo de validade e processos clínicos armazenados sem condições. Segundo a Lusa, Hélder Trindade, que mostrou fotos para sustentar as denúncias, afirmou também que 21% das 8441 amostras criopreservadas se encontram contaminadas e que das 6618 que estarão em condições só cerca de 2000 deverão ser usadas. Também disse, a propósito das queixas da ex-directora acerca da falta de recursos humanos, que aquela recebia um vencimento de cerca de 12 mil euros por mês. Para além disso, levantou dúvidas sobre os montantes gastos com a estrutura.

Helena Alves, contactada pelo PÚBLICO, acusou Hélder Trindade de “manipulação de factos e de faltas à verdade” e apelou à intervenção do Ministério Público. “Averigue-se tudo o que há para averiguar em relação à gestão, à produtividade e às condições de funcionamento dos Centros de Histocompatibilidade do Sul e do Norte, mas de forma independente, sem a possibilidade de qualquer intervenção do presidente do IPST”, disse.

Segundo explicou, “zangas antigas” entre ela própria e Hélder Trindade “não permitem que isenção na avaliação” e “é importante que uma eventual decisão de encerramento do banco seja absolutamente transparente”. Helena Alves disse que não auferia qualquer vencimento por dirigir o Lusocord, mas apenas pela direcção do CHN, onde aquele estava integrado, e negou ganhar “12 mil euros ou algo que se parecesse”. “Vão aos arquivos e verão os ofícios em que até pedi para ganhar menos, ou seja, em que pedi que dotassem o CHN de recursos humanos de maneira a que fossemos mais do que três pessoas a assegurar o funcionamento das urgências 24 sobre 24 horas, o que foi esgotante”, frisou.

A ex-directora do Lusocord garantiu também que, ao contrário do que terá afirmado hoje Hélder Trindade, poderão ser utilizadas para transplante mais de 6000 amostras e que “as que estão contaminadas por bactérias existentes no canal do parto – numa percentagem que corresponde aos resultados noutros centros mundiais – foram guardadas para serem usadas em investigação”. “Como eu sempre denunciei, o banco funcionava em condições precárias, por falta de financiamento, por isso terá sido possível fazer fotografias mais impressionantes”, argumentou.

Segundo disse, “a sala onde eram montados os kits, constituídos por material esterilizado embalado, era um antigo vestiário não usado como tal”. “Bastaria abrir a porta das casas de banho, que estavam fechadas e não eram utilizadas, para dar uma imagem que não é verdadeira. Ou mostrar que as caixas térmicas para o transporte dos kits estavam em despensas improvisadas sobre as bases dos chuveiros, que não funcionavam como tal, para fazer crer que não havia higiene”, disse.

Helena Alves afirmou também estar “certa” de que não foram utilizadas embalagens fora do prazo de validade e explicou que os processos estavam em caixas por não haver recursos humanos que assegurassem o seu arquivamento. “Espero que as pessoas acreditem que teria sido mais fácil desistir”, afirmou, lembrando que desde que o Lusocord foi constituído, em 2009, “mais de mil vezes” chamou “a atenção para as ‘irregularidades’ que tinham de ser cometidas para manter o banco a funcionar”.