Uma em cada oito pessoas no mundo está malnutrida

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A região América Latina e Caraíbas conseguiu reduzir o número de pessoas com fome Norberto Duarte/AFP

Nos últimos 20 anos, o número de pessoas com fome no mundo baixou de mil milhões (entre 1990-1992) para 868 milhões (entre 2010-2012), revela o relatório “O estado da insegurança alimentar no mundo” de 2012.

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Nos últimos 20 anos, o número de pessoas com fome no mundo baixou de mil milhões (entre 1990-1992) para 868 milhões (entre 2010-2012), revela o relatório “O estado da insegurança alimentar no mundo” de 2012.

"O relatório apresenta algumas boas notícias. Conseguimos fazer progressos, mas os números da fome continuam demasiado elevados", disse o director-geral da FAO, José Graziano da Silva, em conferência de imprensa na sede da organização, em Roma. Entre 2010 e 2012, mais de 2,5 milhões de crianças morreram malnutridas.

Estes são números “inaceitavelmente elevados”, sobretudo nos países em desenvolvimento onde 15% da população tem fome, alertam os autores do relatório de três agências das Nações Unidas: a FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura), o PAM (Programa Alimentar Mundial) e o IFAD (Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola).

A meta foi traçada há mais de uma década. Em 2000, os 189 Estados-membros da Assembleia Geral das Nações Unidas assinaram a Declaração do Milénio e aceitaram os oito Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Até 2015, teriam de melhorar indicadores como a pobreza extrema e a fome, alcançar a educação primária universal, promover a igualdade do género e capacitar as mulheres, reduzir a mortalidade infantil, melhorar a saúde materna, combater o VIH/sida, a malária e outras doenças, assegurar a sustentabilidade ambiental e desenvolver uma parceira global para o desenvolvimento.

Apesar das dificuldades, o combate à fome está a ter mais sucesso em relação ao previsto. O “sinal de esperança” resulta, sobretudo, da redução da fome nos países em desenvolvimento de 23,2% para 14,9%.

Mas a crise que estalou em 2007/2008 veio colocar alguns entraves aos avanços conseguidos. “Desde essa altura, os avanços a nível mundial na redução da fome abrandaram e estabilizaram”, refere um comunicado a propósito do relatório. Mas, segundo as Nações Unidas, com “medidas apropriadas para inverter a desaceleração”, ainda será possível atingir a meta estabelecida para 2015. Segundo o relatório, nas regiões mais desenvolvidas o número de pobres tem aumentado de 13 milhões, em 2004-2006, para 16 milhões, em 2010-2012.

A região Ásia e Pacífico continua a ser a zona onde há mais fome. Mas, nos últimos 20 anos, conseguiu diminuir a taxa em quase 30%, apesar de persistirem “consideráveis disparidades” entre países e regiões. A região América Latina e Caraíbas também registou progressos, reduzindo o número de pessoas com fome de 65 para 49 milhões, entre 1990 e 2012. Já em África, o número aumentou de 175 para 239 milhões, 20 milhões dos quais surgiram nos últimos quatro anos. É o único caso em que a situação piorou.

Os autores do relatório defendem que é preciso melhorar as técnicas para registar, por exemplo, o efeito que as variações nos preços dos alimentos ou a desaceleração económica têm nos números da fome. E asseguram que o crescimento agrícola é particularmente eficaz na redução da malnutrição, pelo que os Governos deveriam investir neste sector e apostar não só na qualidade mas também na quantidade.

“A maioria das pessoas em pobreza extrema depende da agricultura e de actividades conexas. O crescimento agrícola com a participação de pequenos agricultores, especialmente as mulheres, será mais eficaz para reduzir a pobreza extrema e a fome se permitir aumentar os rendimentos dos trabalhadores e gerar emprego para os pobres”, lê-se no relatório.

Objectivos após 2015 liderados por Cameron

O relatório surge numa altura em que já se sabe que o primeiro-ministro britânico, David Cameron, o Presidente indonésio, Susilo Bambang Yudhoyono, e a Presidente da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf, foram escolhidos pela ONU para presidir ao grupo de 26 personalidades encarregadas de definir os Objectivos do Desenvolvimento Mundial para o pós-2015.

Neste grupo figuram personalidades tão diversas como a rainha Rânia da Jordânia, o antigo Presidente alemão Horst Kohler, o ex-primeiro ministro japonês Naoto Kan, a esposa de Nelson Mandela, Graça Machel, o chefe da diplomacia sul-coreana Kim Sung-Hwan e a ministra mexicana dos Negócios Estrangeiros, Patricia Espinosa.

Os novos “objectivos do desenvolvimento” surgem no seguimento dos oito Objectivos do Milénio de 2000, entre eles a eliminação da pobreza extrema e a melhoria dos sistemas de saúde até 2015.