E se em vez de se financiarem passes escolares se oferecesse aos alunos uma bicicleta?

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Para Beatriz Pereira, investigadora da UM, é necessário apostar numa educação para a segurança

Beatriz Pereira defende que as autarquias gastariam menos dinheiro ao oferecer uma bicicleta, promovendo um estilo de vida mais saudável e incentivando a prática de actividade física.

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Beatriz Pereira defende que as autarquias gastariam menos dinheiro ao oferecer uma bicicleta, promovendo um estilo de vida mais saudável e incentivando a prática de actividade física.

Ana Pereira, proprietária da Cenas a Pedal, uma empresa dedicada à mobilidade em bicicleta, concorda com a ideia, sobretudo aplicada a crianças a partir dos dez anos, que “têm perfeitas condições físicas para praticar ciclismo”. Realça, porém, que o preço médio de uma bicicleta mais económica e mais funcional varia entre 100 e 200 euros. Mas alerta que, quando o objectivo é utilizar uma bicicleta como meio de transporte, esta tem de ter características essenciais como luzes, bagageiras para transportar as mochilas e pára-lamas, o que encarece. Além disso, um passe escolar permite que as crianças utilizem mais meios de transporte do que a bicicleta, acrescenta Ana Pereira.

Contudo, uma bicicleta, a médio prazo pode ficar mais barata do que o passe escolar que pode custar, no mínimo (com 50% de desconto), 26,25 euros para a cidade de Lisboa e 22,50 para o Porto. Ou seja, são necessários cerca de quatro meses para comprar uma bicicleta de 100 euros.

Do ponto de vista ambiental, Beatriz Pereira defende que o facto de os alunos passarem a utilizar uma bicicleta nas deslocações entre casa e escola reduziria os índices de poluição, uma vez que a maioria “chega mesmo à porta da instituição através do automóvel ou do autocarro”, lê-se em comunicado da UM.

Com base na experiência dos países nórdicos, a investigadora diz que esta solução é perfeitamente aplicável no contexto português. “Nos países nórdicos, onde há muito frio, vê-se de manhã pais e filhos a pedalar de casa até à escola e, ao fim do dia, regressam. Até os alunos e professores universitários o fazem”, realça, lembrando que a distância média do aluno português até à instituição de ensino é de três a cinco quilómetros, logo, trata-se de “uma distância perfeita para pedalar”.

Segurança

Quanto à criação de ciclovias – que existem em vários países europeus e permitem que os ciclistas circulem num trajecto exclusivo – a docente da UM é de opinião que uma “cultura de respeito pelo outro” é suficiente. “Onde circula um automóvel pode circular uma mota ou uma bicicleta, basta haver uma cultura de respeito pelo outro”, afirma em comunicado.


Ana Pereira concorda com a investigadora, dizendo que a prioridade não é a criação de ciclovias, mas “direccionar o tráfego para ruas mais calmas, em que os automóveis não circulem a velocidades tão elevadas”. Salienta, no entanto, que, junto às escolas, o tráfego costuma ser caótica justamente pelos pais que vão levar ou buscar os filhos.

Neste sentido, a investigadora salienta a necessidade de uma “educação para a segurança”, em que os cidadãos devem aprender a respeitar a circulação de bicicletas nas ruas e nos passeios. Defende ainda que os acessos junto às escolas devem ser preparados para a pratica de ciclismo e devem ser criadas infra-estruturas que permitam o parqueamento seguro das bicicletas.

“Oferecer uma bicicleta é só parte do processo”, diz Ana Pereira, acrescentando que tanto a formação rodoviária como em relação à utilização de bicicletas é essencial. “Uma criança de seis ou sete pode saber andar de autocarro, mas não é necessariamente capaz de utilizar uma bicicleta sozinha”, defende.

Exercício físico

Um dos principais argumentos para a aplicação desta sugestão prende-se com o aumento da actividade física que a utilização de bicicletas passaria a proporcionar. Segundo Beatriz Pereira, esta opção poderia originar desportistas nalgumas áreas e tornar os cidadãos mais resistentes, prevenindo, igualmente, doenças crónico-degenerativas e gastos com a saúde.


A investigadora realça que o período lectivo dedicado à prática de Educação física - 2h15 (90 minutos mais 45 minutos) – é bastante inferior à recomendação da Organização Mundial da Saúde de 1h diária. Deste modo, a docente da UM defende que a resposta para evitar a obesidade infantil e o sedentarismo deveria vir “de períodos informais”, como o desporto escolar e actividades extracurriculares como natação, ballet e judo. António Ganhão considera que é importante que as actividades extracurriculares se transformem em curriculares, para, nalguns casos, “poderem ser desempenhadas com mais qualidade”.

O PÚBLICO tentou contactar a investigadora, mas, até ao momento, não obteve qualquer resposta.