Bruno Paixão: O “patinho feio” da arbitragem a quem quase todos apontam o dedo

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Bruno Paixão desfocado em relação à bola Foto: Sergio Azenha (arquivo)

Foi verdadeiramente um caso de estar no lugar errado à hora errada. Bruno Paixão nem tinha sido o árbitro nomeado para o Gil Vicente-Sporting, mas teve de ir em substituição de Jorge Sousa, que se encontrava doente. A partida saldou-se por uma derrota (2-0) do Sporting, e a actuação do árbitro da Associação de Futebol de Setúbal foi contestada pelos dirigentes “leoninos”. Um início de semana como tantos outros para Paixão, que não está nesta situação pela primeira vez.

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Foi verdadeiramente um caso de estar no lugar errado à hora errada. Bruno Paixão nem tinha sido o árbitro nomeado para o Gil Vicente-Sporting, mas teve de ir em substituição de Jorge Sousa, que se encontrava doente. A partida saldou-se por uma derrota (2-0) do Sporting, e a actuação do árbitro da Associação de Futebol de Setúbal foi contestada pelos dirigentes “leoninos”. Um início de semana como tantos outros para Paixão, que não está nesta situação pela primeira vez.

Numa já longa carreira (é árbitro desde 1990-91), Bruno Paixão foi protagonista de várias polémicas. Ao ponto de ter reunido o consenso dos três ditos “grandes”: Benfica, Sporting e FC Porto dizem ter motivos de queixa dele.

Uma pesquisa por “Bruno Paixão” no motor de busca Google oferece sugestões curiosas: “Bruno Paixão prejudica Benfica”; “Bruno Paixão Campo Maior”; “Bruno Paixão Apito Dourado”.

O jogo de Campo Maior, em 1999-2000, em que os “dragões” não lhe perdoam não ter assinalado vários penáltis, deixou-o com um estigma que nunca mais desapareceu.

“[O Campomaiorense-C Porto] foi um jogo que o marcou bastante. Foi violentamente criticado e analisado”, refere Pedro Henriques, ex-árbitro internacional e antigo parceiro em jogos com Bruno Paixão, em conversa com o PÚBLICO. Tem tudo a ver com uma questão de estilo, aponta Pedro Henriques: “Há 17 regras na arbitragem, mais a 18.ª, que é a do bom senso. E ele liga mais às 17 primeiras...”

Uma imagem da qual é agora difícil descolar-se. “É capaz de fazer muitos jogos e ninguém fala dele, mas sendo internacional e nomeado para arbitrar um jogo grande, qualquer erro é exponenciado”, diz Henriques. “Com outros árbitros não há tanta antipatia. Ele é o patinho feio.” E avança com um nome: “O [italiano Pierluigi] Collina, quando entrava em campo, tinha tanto estatuto, crédito e personalidade que os seus erros mal eram falados”, conta. “Ele [Bruno Paixão] é uma espécie de anti-Collina.”

Bruno Paixão teve uma ascensão fulgurante na arbitragem. Na sua ficha na Liga Portuguesa de Futebol Profissional lê-se que é árbitro desde 1990-91 – andava pelos 16/17 anos. Chega à primeira categoria em 1997-98, e estreia-se no principal escalão do futebol português num E. Amadora-Sp. Braga, a 30 de Novembro de 1997. Mostrou sete cartões amarelos nesse primeiro jogo. E, 15 anos depois, mantém a média: as estatísticas mostram que Paixão tem a terceira média mais alta de cartões por jogo na I Liga (51 em sete encontros, ou 7,29/jogo).

Carreira de altos e baixos

“Chegou à primeira categoria em tempo recorde. Como era um autêntico menino, aos 24 [23] anos na primeira categoria, serviu de bandeira. Toda a gente dizia que ia ter um futuro risonho”, aponta Jorge Coroado ao PÚBLICO. Mas este ex-árbitro internacional, crítico de Paixão, considera que o actualmente engenheiro de produção industrial ainda não tinha demonstrado “maturidade, competência, capacidade, até inteligência suficiente para ser árbitro de futebol”.

Os anos passaram mas, na opinião de Coroado, os “defeitos de personalidade” de Bruno Paixão não mudaram: “Em termos técnico-teóricos, será alguém com conhecimentos. Mas, em termos práticos, não tem sensibilidade para o futebol. Não tem apetência para decidir. Faltam-lhe capacidades para gerir um grupo de homens. Arbitrar é mais do que aplicar um conjunto de regras.”

Motivos que, provavelmente, terão contribuído para que na Internet tenha surgido uma petição a pedir o afastamento de Paixão dos jogos da I Liga.

Em 2009, à margem de uma cerimónia em que recebeu as insígnias da FIFA, Bruno Paixão dizia: “Se não defendermos o nosso espectáculo, vamos destruí-lo. Os árbitros trabalham todos os dias, treinam a nível mental, físico e técnico, para terem menos erros, mas o erro faz parte do nosso espectáculo.”

Se as classificações obtidas ao longo da carreira demonstram algo é a irregularidade de Bruno Paixão. Capaz do melhor e do pior. Terminou a temporada passada na 17.ª posição entre os 25 árbitros da primeira categoria. Na época anterior tinha sido 7.º. Em 2003-04 foi 16.º, mas logo no ano seguinte ficou no topo da tabela, cotando-se como 5.º melhor. Tudo para voltar a uma classificação discreta em 2005-06 (15.º).

Eis a história de Bruno Paixão, um menino que se fez árbitro mas a quem as dores de crescimento ainda não passaram. Aos 37 anos tem já um percurso que faz dele um veterano da arbitragem. Calejado pelas críticas. De polémica em polémica. Em Barcelos protagonizou o mais recente episódio de uma lista que vai crescendo. Tornaremos a ouvir falar dele.

com Filipe Escobar de Lima e Marco Vaza