Projecto Amélie quer mudar um pouco a nossa vida

As mensagens são muitas e os locais onde estão coladas são na sua maioria insólitos: cabines telefónicas, sinais de trânsito, semáforos, portas, caixas multibanco e troncos de árvores

Foto
Martim Dornellas

Se alguma vez ao caminhar pela cidade de Lisboa te deparaste com mensagens criativas como “Lembra-te dos teus amigos”, “Não te esqueças de quem és” ou “Leva o que precisas”, não estranhes, são pensamentos de Martim Dornellas, fundador do Projecto Amélie.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Se alguma vez ao caminhar pela cidade de Lisboa te deparaste com mensagens criativas como “Lembra-te dos teus amigos”, “Não te esqueças de quem és” ou “Leva o que precisas”, não estranhes, são pensamentos de Martim Dornellas, fundador do Projecto Amélie.

Em entrevista ao P3, Dornellas diz-nos que este projecto, já antigo, “nasce de uma vontade de mudar só um pouco o dia-a-dia das pessoas”. "Sempre mexeram muito comigo projectos como os Abraços Grátis ou as cenas dos Improv Everywhere e sempre andei a magicar uma forma de interferir, mesmo que ligeiramente, na rotina das pessoas.”

Inspirado no “ChillOut Song do Ze Frank” decidiu que era “exactamente isso que queria fazer”. Pelos vistos conseguiu interferir na rotinas das pessoas, não só de Lisboa, mas daqueles que acompanham o seu projecto através do Facebook. “Com as inúmeras mensagens que me chegam, consigo ter noção que o projecto tem tido um impacto positivo”, afirma.

Autolocante rima com crise

Foto
Ando sempre com autocolantes no carro e nos bolsos Martim Dornellas

As mensagens são muitas e os locais onde estão coladas são na sua maioria insólitos: cabines telefónicas, sinais de trânsito, semáforos, portas, caixas multibanco ou mesmo em troncos de árvores. “Ando sempre com autocolantes no carro e nos bolsos e volta e meia colo um ou outro”, confessa.

Foto
Basta combater alguma inércia e ver um bocadinho menos de televisão Martim Dornellas

À hora de almoço ou o final do dia “vou colando”. “Nunca fiz uma acção gigante, nunca colei milhares de autocolantes de um dia para o outro.” Não esconde que sente alguma vergonha e quando vai aos locais é muito rápido para que as pessoas não se apercebam. Cola e no dia seguinte aparece para tirar umas fotos. “Gosto do gesto e da reacção das pessoas que o vêem, não gosto muito é da exposição, por isso sou tão desajeitado”. O risco é calculado. “Se não colar, o projecto fica só na teoria. E é importante materializar as ideias”.

Foto
Nunca colei milhares de autocolantes de um dia para o outro Martim Dornellas

Os portugueses sentem necessidade destas frases ou pensamentos? “Infelizmente", responde Martim Dornellas. "Foi uma coincidência a minha vontade de fazer este tipo de projectos com o estado que o país atravessa".

Entre as acções com maior impacto destaca os semáforos onde coloca corações. "São os mais complicados de colocar e por isso aqueles que faço menos”. O contágio não é apenas em Lisboa, “tem-se espalhado pelo país e há imensa gente a colocar autocolantes no Porto, Coimbra, etc”.

Martim diz que as ideias “vão surgindo". "Não tenho um plano, mas a ideia é fazer sempre novos”. Fica a dica para continuarem ou começarem a acompanhar o projecto Amélie que certamente irá continuar a surpreender os seguidores e rasgar sorrisos nos transeuntes das nossas cidades. “Não há que ter medo nem vergonha. No fundo, basta combater alguma inércia e ver um bocadinho menos de televisão”.