O poker mudou-lhes a vida

Um dia um amigo introduziu-os às fichas coloridas e o jogo de estratégia e matemática não mais lhes saiu da cabeça. Trabalham no meio do poker, mas nem sempre jogam

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Vanda, Catarina, Inês e Jomané são quatro jovens a quem o poker possibilitou uma oportunidade de trabalho – e não necessariamente a jogar. Em comum têm experiências únicas, proporcionadas pelo jogo de cartas que vicia (e arruína) jogadores um pouco por todo o mundo.

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Vanda, Catarina, Inês e Jomané são quatro jovens a quem o poker possibilitou uma oportunidade de trabalho – e não necessariamente a jogar. Em comum têm experiências únicas, proporcionadas pelo jogo de cartas que vicia (e arruína) jogadores um pouco por todo o mundo.

Quando estudava Bioquímica na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Vanda Silva irritava-se com os colegas que passavam muito tempo a jogar um “jogo estranho”, e que os envolvia a ponto de só discutirem jogadas e estratégias. Até que um deles a convenceu a aprender um pouco mais sobre este “jogo de estratégia” e, graças a um livro, Vanda ficou “super cativada”, ao perceber que envolvia muita matemática e muitas probabilidades.

Num torneio ao vivo surgiu a oportunidade de ser "dealer" (dar cartas no poker) e Vanda resolveu aproveitar. “A par da faculdade, ao fim-de-semana ia dar cartas nos torneios e ganhar algum dinheiro”, lembra, naquela que considera ser uma “mudança drástica na sua vida”. Vanda estava desmotivada com o curso e encontrou no poker “uma coisa que realmente gosta de fazer”.

Vanda, a "Xica dos Bídeos"

Suspendeu a licenciatura e, desde inícios de 2009, Vanda trabalha a tempo inteiro na empresa Poker PT, onde é responsável por escrever as notícias do site, fazer reportagens de torneios ou acompanhar os jogadores portugueses. É conhecida como a “Xica dos Bídeos” e, graças a este trabalho, viaja com regularidade. Las Vegas é a cidade a que mais vezes volta e onde não resiste a “tirar uma ou duas horas para brincar com as fichas”.

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O que Vanda mais gosta no seu trabalho, logo a seguir a conhecer pessoas muito diferentes e criar relações de amizade, é o facto de “ter, realmente, prazer a fazê-lo”. Os fins-de-semana são preenchidos por torneios e a “Xica dos Bídeos” não abandona a sala enquanto existirem portugueses a jogo.

Vanda Silva já viajou pelo mundo a fazer reportagem sobre poker

João Nunes, conhecido por Jomané, é visto como o “embaixador do jogo”. Criou, em 2004, o Pokerpt.com, a maior comunidade online portuguesa dedicada ao poker e, com isso, abriu portas a muitos jovens que fazem deste jogo um modo de vida. Já jogou basquetebol profissional mas hoje são os torneios e a empresa que ocupam os seus dias em Aveiro.

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Mais uma universitária no poker

O site Poker PT aposta cada vez mais no conteúdo audiovisual, explica Vanda

Inês Osório deve o seu trabalho como "dealer" de poker a Vanda Silva. Colegas de curso, a última apresentou o jogo à primeira e Inês, como não é “pessoa para recusar oportunidades sem antes experimentar”, aceitou. Fez uma pequena formação e há já quatro anos que dá cartas, principalmente, no Casino do Estoril.

É mais uma universitária a ocupar os fins-de-semana com o poker, ainda que, ultimamente, esse número tenha caído devido à exigência de uma nova lei que “obriga os 'dealers' de torneios a ter o curso de pagadores”. Aos 29 anos, Inês, natural de Miramar, vive em Lisboa, onde está a fazer um doutoramento em Química Sustentável, na Universidade Nova, e tem “aptidão para pagar qualquer jogo de casino”.

“Enquanto conseguir conciliar tudo vou continuar. Mas não ponho de parte a hipótese de fazer vida a dar cartas. É uma porta aberta.” Entretanto, vai ajudando nas contas – “e principalmente nos extras que todos gostamos de ter” –, ainda que fisicamente seja desgastante. Compensa o facto de ter “uma boa equipa de trabalho”. “Acho que se não gostasse de dar cartas e não me divertisse talvez já tivesse desistido, por ser tão cansativo.”

Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra, estagiou por três anos e começou a trabalhar como advogada num escritório, em Matosinhos. Até que um amigo lhe apresentou o poker e começou a jogar “por brincadeira”. Seguiram-se torneios ao vivo e um patrocínio que funcionou como incentivo para Catarina Santos jogar cada vez mais.

Em 2008, venceu o seu primeiro grande torneio, naquele que é um momento inesquecível na sua carreira como jogadora. Três anos depois, em 2011 decidiu dar prioridade ao jogo e passar a advocacia para segundo plano. Aos 29 anos, depois de muito viajar para participar em torneios, é professora de poker na escola EducaPoker.pt.

“É uma experiência nova que decidi ter para aprofundar o meu jogo. Ao mesmo tempo que ensino aquilo que já sei também vou aprendendo, numa forma equilibrada de estar neste mundo.” Para Catarina, o sucesso do poker explica-se por ser um jogo “que desenvolve mentalmente os jogadores”, ao exigir pensar e muita análise dos adversários, ao mesmo tempo que “parece um jogo simples mas, afinal, não o é”.