(in)visível: O porno já não é só para o homem-branco-hetero

Apresenta-se como uma "revista literária, jornalística, científica e de casa-de-banho". O número zero foi dedicado à pornografia

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A pornografia está presente no dia-a-dia e pode ser olhada de formas totalmente distintas. Para uns pode significar uma relação entre o corpo e um vegetal, enquanto que outros não se conseguem desligar de um dildo ou de um corpete. O número zero da revista (in)visível prova-o: há diferentes formas de pornografia. E qual é o problema?

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A pornografia está presente no dia-a-dia e pode ser olhada de formas totalmente distintas. Para uns pode significar uma relação entre o corpo e um vegetal, enquanto que outros não se conseguem desligar de um dildo ou de um corpete. O número zero da revista (in)visível prova-o: há diferentes formas de pornografia. E qual é o problema?

"Assistimos a uma dessacralização dos corpos e do desejo e admite-se cada vez mais que quem vê pornografia não é apenas o homem-branco-hetero", refere, em declarações enviadas por e-mail, o conselho editorial composto por Salomé Coelho, Rodrigo Saturnino, Fátima Orta Jacinto, Marcelo Valadares, Lira Dolabella e Pablo Almada.

Lançada em Setembro, a (in)visível é uma revista luso-brasileira trimestral, para já só online, que pretende que dar espaço a "perspectivas invisíveis" sobre as mais variadas temáticas, explorando diferentes pontos de vista "sem pretensões de escolher uma dessas visões".

Nasceu, um pouco, como resposta ao discurso académico, tendo como objectivo "incluir linguagens que são empurradas para fora da academia pelo zelo hipócrita dos 'monopólios do conhecimento'". Os textos científicos estão lá, mas não são os únicos. No cartão de visita estaria escrito: "uma revista literária, jornalística, científica e de casa-de-banho".

A escolha da pornografia

Nunca se produziu tanta pornografia como nos dias de hoje. Fará sentido que o número zero (em pdf) seja dedicado a um tema tão "visível"? Sim, tendo em conta que muitas interpretações e perspectivas nunca chegam a ser abordadas. Também o próprio o consumo assumido destes conteúdos está longe de ser pacífico, logo é silenciado, alude o conselho editorial:

 

"A pornografia é uma indústria gigantesca que mexe com muitas pessoas e muito dinheiro. No entanto, ela é tida quase como subterrânea, escondida, interdita (...) porque é usualmente vista como algo menor, utilitário, com estética questionável. Admitir que [a pornografia] excita é aceitar para si estes adjectivos associados."

 

Os diferentes "olhares" que a revista incorpora gera uma "confusão de visões" que vai continuar a ser explorada. Afinal, as fotografias de Stacy Leigh a um boneco de silicone em poses sugestivas até ficam bem ao lado de um poema de Natália Correia. E um artigo académico sobre "agressão masculina em vídeos porno" até pode ser ilustrado com os desenhos bem explícitos do mítico Tom of Finland.

 

A próxima edição centra-se na escravatura. Quem quiser pode enviar textos, fotografias, poesia e artigos até 31 de Dezembro. O futuro até pode passar por uma versão em papel, possivelmente recorrendo ao financiamento colaborativo ("crowdfunding"), já que a revista é fruto, inteiramente, de colaborações voluntárias.