Quase não há treinadores negros

Uma análise às principais ligas de futebol do mundo permite concluir que só existem dois treinadores negros à frente dos clubes

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Os jogadores de futebol de origem africana estão espalhados por todos os cantos do globo. Quem quiser vê-los só tem de pegar no comando da televisão e colocar num canal desportivo inglês, italiano ou brasileiro, por exemplo. Contudo, o mesmo não se pode dizer em relação ao número de treinadores negros que dirigem uma equipa de futebol nos principais campeonatos do mundo.

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Os jogadores de futebol de origem africana estão espalhados por todos os cantos do globo. Quem quiser vê-los só tem de pegar no comando da televisão e colocar num canal desportivo inglês, italiano ou brasileiro, por exemplo. Contudo, o mesmo não se pode dizer em relação ao número de treinadores negros que dirigem uma equipa de futebol nos principais campeonatos do mundo.

Se considerarmos as oito ligas melhor classificadas nos rankings da UEFA e da Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFHS) – Alemanha, Argentina, Brasil, Espanha, França, Inglaterra, Itália e Portugal (em ambos os rankings, Portugal ocupa a sexta posição) – e os 154 clubes que elas agregam, conclui-se que apenas em dois deles estão treinadores negros.

Apesar de as probabilidades serem baixas, a verdade é que um deles treina em Portugal. Trata-se de Daúto Faquirá, que, como técnico do Olhanense, insere-se no restrito grupo. O outro resistente é Antoine Kombouaré, que se encontra em França, no Paris Saint-Germain.

Os “special two”

Daúto Faquirá nasceu em Moçambique e, juntamente com Antoine Kombouaré, natural da Nova Caledónia (uma ilha no meio do Pacífico com laços à França), forma um grupo de técnicos “especial”.

“É um dado curioso, não tinha noção de que éramos apenas dois”, expressa Faquirá ao P3. O treinador do Olhanense, ao aperceber-se da disparidade de números, refere que o seu percurso e cargo actual é “a demonstração, em termos étnicos, de que, com trabalho e confiança, a cor não é, nem deve ser, factor de discriminação”.

Em quase todas as épocas desportivas assiste-se a manifestações de racismo perante jogadores de futebol. Mas será que isso também acontece com treinadores? “Já me aconteceu, quando andava pelas divisões secundárias. Eram actos isolados de alguns energúmenos”, revela Daúto.

O paradoxo entre a quantidade de jogadores e de treinadores negros leva a que Faquirá não saiba a verdadeira razão para tal: “Poderá ser uma questão social, mas não só. (…) O Phil Jackson [ex-treinador da NBA (branco)] também perguntava o que é que seria necessário acontecer para existirem mais treinadores negros na NBA”.