Medicamento para a diabetes matou 500 pessoas em França

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O medicamento foi retirado do mercado português em Novembro do ano passado Foto: Manuel Roberto/arquivo

O medicamento, do laboratório Servier, era recomendado, por exemplo, para a diabetes assintomática em pessoas com problemas de colesterol e triglicéridos elevados. Era também utilizado para controlar o apetite.

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O medicamento, do laboratório Servier, era recomendado, por exemplo, para a diabetes assintomática em pessoas com problemas de colesterol e triglicéridos elevados. Era também utilizado para controlar o apetite.

O Mediator começou a ser vendido em França em 1976 e, ao longo dos anos, foram feitos alguns estudos que estabeleciam uma possível relação entre a toma deste medicamento e problemas nas válvulas cardíacas. O fármaco acabou por ser retirado do mercado francês no final de 2009, numa altura em que era consumido por cerca de 300.000 pessoas. Na mesma altura foi retirado também em Portugal.

A decisão foi tomada na sequência de a Agência Europeia do Medicamento (EMA) ter feito uma revisão do risco-benefício da substância, acabando por reconhecer que o fármaco não era muito eficaz no tratamento da diabetes e que os seus riscos eram superiores aos possíveis ganhos. No entanto, países como Espanha e Itália decidiram retirar o medicamento mais cedo, ainda em 2005, o que está a suscitar acusações às autoridades francesas de terem agido tardiamente. Nos Estados Unidos o medicamento foi proibido ainda em 1997.

A Agência Francesa de Segurança Sanitária e de Produtos de Saúde referiu ainda que, além das 500 mortes, cerca de 3500 pessoas foram hospitalizadas na sequência de problemas relacionados com o Mediator. Por isso, pedem aos doentes que fizerem este tratamento durante pelo menos três meses que consultem o médico assistente para ser feita uma avaliação mais pormenorizada sobre uma eventual valvulopatia cardíaca.

Medicamento era pouco utilizado em Portugal

Contactados pelo PÚBLICO, tanto o presidente da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, Luís Gardete Correia, como o coordenador do Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Diabetes, José Manuel Boavida, disseram não ter conhecimento de problemas associados ao consumo de


benfluorex

(Mediator, de nome comercial) em Portugal.

“Desde há cinco ou seis anos que praticamente não o usávamos cá”, afirmou Gardete Correia, que explicou que o fármaco era habitualmente prescrito para controlo de lípidos no sangue e, na diabetes, para a melhoria do equilíbrio glicémico. Também José Manuel Boavida disse desconhecer em Portugal “ocorrências” do tipo das agora relatadas em França. “Como se trata de uma companhia francesa [Servier], provavelmente lá vendia-se mais”, salientou. “Cá, era muito pouco vendido”.

O PÚBLICO aguarda resposta da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) sobre os eventuais registos de reacções adversas em Portugal e sobre quantas pessoas tomavam este fármaco aquando da proibição de venda.