Ajuda financeira à Grécia ameaça abrir crise sem precedentes na União Europeia
Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, entrou mesmo em rota de colisão com Berlim ao defender ontem que os líderes deverão, na cimeira, chegar a "uma decisão para saber como gerir a Grécia", sem o que "a grande incerteza [actual] corre o risco de se prolongar por muito tempo", afirmou em entrevista ao jornal alemão Handelsblatt.
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Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, entrou mesmo em rota de colisão com Berlim ao defender ontem que os líderes deverão, na cimeira, chegar a "uma decisão para saber como gerir a Grécia", sem o que "a grande incerteza [actual] corre o risco de se prolongar por muito tempo", afirmou em entrevista ao jornal alemão Handelsblatt.
A posição do presidente da Comissão - apoiada pela França, Itália, Áustria e Espanha - reforça o apelo várias vezes repetido por George Papandreou, primeiro-ministro grego, de obter na cimeira uma clarificação sobre o mecanismo de ajuda, sob a forma de empréstimos bilaterais dos países do euro, que lhe foi prometido há uma semana pelos ministros das finanças dos Vinte e Sete.
Segundo Papandreou, uma decisão nesse sentido será suficiente para sossegar os mercados financeiros e convencê-los a baixar os prémios de risco exorbitantes que estão a exigir pelos títulos da dívida do seu país, o que o ameaça de falência. Sem esta clarificação, Papandreou avisou que pedirá ajuda ao Fundo Monetário Europeu (FMI).
Esta é a solução que parece ser privilegiada por Angela Merkel, chanceler alemã, que continua a resistir a uma ajuda europeia por razões políticas - resultantes da oposição do partido liberal membro da sua coligação governamental e de uma forte hostilidade da sua opinião pública - e constitucionais - ligados à recusa do Tribunal Constitucional de qualquer situação de instabilidade da moeda única.
Berlim alega que a Grécia ainda não pediu qualquer ajuda e não há, por isso, urgência em tomar uma decisão, embora deixando implícito que se a situação se colocar a solução poderá passar por um mecanismo misto entre a UE e o FMI.
Merkel recebeu ontem o apoio de Holanda e Finlândia, cujos ministros dos Negócios Estrangeiros consideraram a sua posição "muito compreensível", e de Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro do Luxemburgo e presidente do eurogrupo (dos ministros das finanças da zona euro).
Juncker considerou que "não é absolutamente necessário" que uma decisão seja tomada esta semana e admitiu sem rodeios a possibilidade de um mecanismo conjunto com o Fundo Monetário Internacional: "Sou absolutamente contra uma solução em que apenas o FMI tente solucionar os problemas da Grécia", afirmou, prosseguindo: "Não posso ignorar o facto de que há razões para que o Fundo seja incluído na solução, mas isso deve ser feito com base nas regras europeias".
Trichet e a solução internaAo invés, Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE), assumiu a posição contrária, ao manifestar-se implicitamente a favor de uma solução interna. "Não há zona euro à la carte", os países europeus entraram na moeda única "para partilhar um destino comum".
Trichet deixou por outro lado claro que uma eventual ajuda europeia não se traduzirá em donativos a fundo perdido, mas em empréstimos ligados a condições muito estritas.
A situação das finanças públicas gregas e a falta de acordo para um modelo europeu de apoio ao Governo de Atenas tem continuado a degradar as condições de financiamento nos mercados internacionais.
Nos últimos dias, os juros que o Governo Papandreou paga pelas obrigações gregas aumentaram 50 pontos-base para os prazos mais curtos e 35 para os mais longos. Neste momento, a diferença para os juros que Berlim paga pela emissão de dívida é de mais de 430 pontos-base - cerca de 4,3 por cento.12,7%
O défice das contas públicas gregas foi de 12,7 por cento em 2009, mas em Bruxelas
há quem suspeite que foi superior