Agostinho Almeida Santos: empresarialização hospitalar pode levar à ruptura do SNS

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Agostinho Almeida Santos foi presidente do Conselho de Administração dos HUC Sérgio Azenha (arquivo)

“Não acredito no actual sistema de gestão empresarial dos hospitais. É uma falsa medida porque o que se pretende é encobrir o défice”, disse à agência Lusa o catedrático de ginecologia, que segunda-feira passa à situação de aposentado ao fim de 46 anos de carreira, universitária e hospitalar.

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“Não acredito no actual sistema de gestão empresarial dos hospitais. É uma falsa medida porque o que se pretende é encobrir o défice”, disse à agência Lusa o catedrático de ginecologia, que segunda-feira passa à situação de aposentado ao fim de 46 anos de carreira, universitária e hospitalar.

Recorde-se que a transformação dos HUC em Entidade Pública Empresarial (EPE) esteve na origem da demissão de Agostinho de Almeida Santos de presidente do Conselho de Administração daquela unidade há cerca de dois anos.

“Eu não aceitei a assinatura do contrato programa com o ministério, o que resultou num homicídio político, porque entendia que as verbas não eram suficientes para a qualidade dos HUC”, relembrou o ginecologista.

Segundo o médico, “a qualidade de gestão das EPE é adulterada pela circunstância de que o gestor nunca é recriminado por má gestão” quando, actualmente, existe cerca de “25 por cento de desperdício”.

“Eu tive a honra de equilibrar as contas dos HUC entre 2005 e 2007”, sublinhou.

A seis meses da sua jubilação, Agostinho de Almeida Santos sai pelo “próprio pé” sem proferir a sua última aula na Universidade de Coimbra, “por não ter condições para exercer com dignidade a missão hospitalar e universitária”.

“Não tenho um serviço para ensinar e não tenho capacidade hospitalar de intervenção”, frisou, lamentando a extinção do Departamento de Medicina Materno-Fetal, Genética e Reprodução Humana, do qual era director.

“Não me vou jubilar. Queria fazê-lo, mas reformo-me porque não tenho condições para isso”, acrescentou.

O professor considera que o serviço de ginecologia em Coimbra está a dar passos atrás, com a saída de vários “baluartes” de uma especialidade que teve projecção nacional e internacional e que agora tem “um choque profundo”.

A sua última lição como universitário europeu será dada em Outubro, em Paris (onde estudou e se doutorou na área da reprodução humana), na qualidade de presidente de honra e vice-presidente, respectivamente, das X Jornadas Europeias de Ginecologia e Jornadas Albert Netter da Sociedade de Ginecologia, da qual é presidente honorário.