Tuvalu, país submerso duas vezes por ano

Foto
Nas grandes marés de Primavera e de Outuno o mar invade a ilha Reuters (arquivo)

Nas grandes marés da Primavera e do Outono, o mar simplesmente invade a ilha. "Chega aos meus joelhos", diz Evi. "Até a pista do aeroporto fica alagada." A água está a salgar o solo e a comprometer a modesta actividade agrícola. O cultivo de uma base da dieta local - o "taro", uma planta de largas folhas - está cada vez mais difícil. "Comêmo-lo desde sempre. Mas como a terra está a ficar salinizada, começa a haver problemas", conta Enate Evi.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Nas grandes marés da Primavera e do Outono, o mar simplesmente invade a ilha. "Chega aos meus joelhos", diz Evi. "Até a pista do aeroporto fica alagada." A água está a salgar o solo e a comprometer a modesta actividade agrícola. O cultivo de uma base da dieta local - o "taro", uma planta de largas folhas - está cada vez mais difícil. "Comêmo-lo desde sempre. Mas como a terra está a ficar salinizada, começa a haver problemas", conta Enate Evi.

O Tuvalu é uma voz incontornável nas negociações climáticas. Muitas vezes fala em nome dos Estados formados por pequenas ilhas, conhecido pela sigla SIDS (Small Islands Developing States), no qual alinham mais meia centena de países.

Não é o único na lista dos mais vulneráveis, mas é um dos mais activos. Em Bali, o Tuvalu tem um stand próprio, com informação sobre as belezas e os problemas do país. Enquanto pendurava coloridos leques de palha, o vice-primeiro-ministro Tavau Teii disse ao PÚBLICO que o país não tem dinheiro para se proteger da subida do nível do mar.

"Vê aquela senhora?", diz, apontando uma fotografia, onde uma mulher aparece ao lado de um rudimentar muro de pedras. "Está a construir uma protecção contra o mar".

Os habitantes estão a plantar árvores, para tentar segurar a areia que a água leva. Tavau Teii diz que é preciso construir uma protecção mais sólida. Mas, mesmo que houvesse financiamento internacional, o Governo não teria os três milhões de dólares da comparticipação nacional.

Tuvalu queixa-se de que, com as regras actuais do Fundo Mundial para o Ambiente, o dinheiro não chega aos países mais vulneráveis e com menores recursos. "A maior parte do financiamento vai para grandes países", lamenta.

A situação poderá ser diferente, se a conferência de Bali chegar a acordo sobre um fundo de adaptação destinado aos países mais vulneráveis.

O fundo já foi criado e será alimentado com dois por cento dos benefícios de cada projecto de redução de emissões nos países em desenvolvimento, no âmbito do chamado mecanismo de desenvolvimento limpo. Mas ainda falta definir quem vai gerir o dinheiro e como. "Neste momento, não há nenhum dinheiro", disse Yvo de Boer, secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, à qual está vinculado o fundo.

Se já estivesse operacional, os projectos já em curso teriam rendido 36 milhões de dólares ao fundo, disse Boer. É uma ínfima fracção do dinheiro que se estima necessário para preparar o mundo para um futuro mais quente.