Aprovado relatório da ONU sobre mitigação das alterações climáticas

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O relatório foi negociado até ao mais pequeno pormenor durante esta semana Adrees Latif/Reuters

O relatório — um resumo de intenções dos decisores políticos que os peritos do IPCC aprovaram — "identifica, claramente, as medidas para lutar contra as alterações climáticas a um custo relativamente moderado", considerou Rajendra Pachauri, presidente do IPCC.

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O relatório — um resumo de intenções dos decisores políticos que os peritos do IPCC aprovaram — "identifica, claramente, as medidas para lutar contra as alterações climáticas a um custo relativamente moderado", considerou Rajendra Pachauri, presidente do IPCC.

Os especialistas foram unânimes em declarar que, mais do que possível, é urgente agir contra o sobre-aquecimento global, que poderá chegar aos 6,4 graus em 2100, em relação ao período 1980-1999. No entanto, os peritos continuam a divergir quanto aos meios mais indicados para alcançar esse objectivo.

Negociado até ao mais pequeno detalhe esta semana, o relatório do IPCC considera que os próximos 20 a 30 anos serão cruciais para garantir que as temperaturas médias do planeta não subam mais do que entre 2 e 2,4 graus. Se esse objectivo for alcançado, o IPCC estima que as emissões mundiais de gases com efeito de estufa (GEE) deverão começar a decrescer a partir de 2015, de acordo com o cenário mais optimista.

Para estabilizar a concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera a níveis situados entre as 445 e as 490 partes por milhão (ppm) e para conter o aumento das temperaturas, é preciso que estas emissões atinjam um pico até 2015 e que desçam em seguida 50 por cento (379 ppm) até 2050, segundo o documento.

"Se continuarmos a fazer o que estamos a fazer agora, vamos ter graves problemas", advertiu Ogunlade Davidson, co-presidente de um grupo de trabalho do IPCC, na apresentação de uma síntese dos debates que tiveram lugar esta semana em Banguecoque.

Bert Metz, co-presidente do grupo de trabalho III do IPCC, acredita no "grande potencial" para reduzir as emissões. "E esse potencial é tal que vai permitir compensar o crescimento das emissões com as tecnologias actuais". Metz acredita ainda que "todos os sectores poderão contribuir para a redução das emissões em todos os países do mundo".

A questão dos custos deste combate dominou os cinco dias de debates do IPCC, suscitando mesmo fricções entre os representantes dos países presentes, incluindo a China.

O resumo aprovado hoje salienta que "os custos de redução são claramente suportáveis", disse Marc Gillet, líder da delegação francesa.

IPCC apela à alteração do modo de vida de todos

O relatório sublinha também o contributo que cada indivíduo pode dar, como ir de comboio para o emprego, regular a temperatura da casa ou comer menos carne. "As alterações no modo de vida e dos comportamentos podem contribuir para a redução das emissões em todos os sectores", declara o relatório do IPCC.

Mas alterar o modo de vida não significa que as populações dos países ricos ou pobres tenham de fazer sacrifícios. "Isto não é uma questão de sacrifício. É uma questão de mudança. Podemos fazer um desenvolvimento de forma muito mais sustentável", disse Ogunlade Davidson.

Rajendra Pachauri felicitou o antigo primeiro-ministro japonês Junichiro Koizumi que encorajou os seus funcionários a renunciar à gravata no Verão para poder reduzir um pouco a climatização.

Uma outra opção a tomar em consideração é tornar-se vegetariano, acrescentou Pachauri, de nacionalidade indiana, salientando que se trata de um conselho pessoal e não de uma posição oficial do IPCC. "Se as pessoas comerem menos carne, elas poderão ter uma saúde melhor. E, ao mesmo tempo, estão a contribuir para a redução das emissões geradas pela criação de gado". Para produzir carne, transportá-la, refrigerá-la, encaminhá-la para os centros de distribuição, tudo isso contribui para a emissão de gases com efeito de estufa, lembrou.