Quase metade das famílias portuguesas habita em casas frias ou muito frias

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O estudo, publicado em Outubro do ano passado, indica que "as casas foram mais referidas como frias nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo, quando comparadas com a região do Algarve".

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O estudo, publicado em Outubro do ano passado, indica que "as casas foram mais referidas como frias nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo, quando comparadas com a região do Algarve".

Intitulado "Efeitos do frio nas famílias portuguesas", o estudo foi realizado entre Maio e Junho de 2003, com uma amostra de famílias do painel ECOS - Em Casa Observamos Saúde (famílias residentes em Portugal continental com telefone fixo) do Observatório Nacional de Saúde do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge.

Os 3497 indivíduos questionados distribuem-se homogeneamente pelas cinco regiões de saúde (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve) e 43,9 por cento das famílias vivem em meio urbano.

Os resultados apurados revelaram que 49,7 por cento das famílias entrevistadas consideraram as suas habitações "frias ou muito frias", enquanto 20,4 por cento referiram ter queixas de frio muitas vezes.

Quanto aos equipamentos utilizados para combater o frio, o estudo identificou que apenas cerca de quatro por cento das famílias têm ar condicionado quente, enquanto 15,2 por cento não referem a posse de qualquer equipamento de aquecimento do ar, eléctrico, a gás ou outro.

Dos inquiridos, 14,6 por cento têm aquecimento central, 51,6 por cento têm lareira e 65,8 por cento têm aquecedores eléctricos.

Em época de frio, a grande maioria dos inquiridos recorre também a mais roupa (99,4 por cento) e mais cobertores (99,9 por cento).

Um estudo publicado na edição deste mês da revista "Proteste", da associação de defesa do consumidor Deco, alertou que muitas casas novas em Portugal são mal isoladas e que dos 34 apartamentos novos inspeccionados em Lisboa e no Porto há mais de um terço sem condições de conforto.

Além de caracterizar as casas portuguesas, o trabalho do Observatório Nacional de Saúde, coordenado por Paulo Nogueira, procurou também conhecer as queixas de saúde das famílias face ao frio.

Este estudo pretende também ser a base para uma ambição maior, que é estudar a relação entre o frio e a mortalidade, explicou Paulo Nogueira à Lusa.

"É consensual", segundo o estudo, "que o frio ou as épocas frias do ano estão associadas a níveis de mortalidade mais elevados e à ocorrência mais frequente de algumas doenças", sendo os mais vulneráveis os idosos, as crianças, os doentes crónicos e os sem-abrigo.

Porém, Paulo Nogueira frisou que "é muito difícil estabelecer uma relação entre o frio e a mortalidade, como acontece em relação ao calor, porque não é uma relação tão directa".

Tal como o trabalho refere, citando um estudo apresentado em 2003 por J.D. Healy, intitulado "A mortalidade excessiva durante o Inverno na Europa", a "variabilidade de um grau centígrado da temperatura média do ar associa-se com um por cento de mortalidade uma semana mais tarde".

No que toca a problemas de saúde originados pelo frio, 34,4 por cento das famílias referiram tê-los sentido, sendo especialmente elevada a percentagem de pessoas nos grupos etários mais baixos (quase 60 por cento até aos quatro anos de idade).

Já os problemas de saúde não relacionados com o frio afectaram especialmente os mais idosos (30,4 por cento no grupo etário dos 75 ou mais).

Das famílias que sentiram problemas de saúde devido ao frio, 19 por cento procuraram cuidados de saúde, e destas 15,2 por cento foram a uma consulta médica, enquanto 4,9 por cento foram a serviços de urgência e apenas 0,3 por cento das pessoas ficaram internadas.

O estudo realça que "no grupo etário dos 0 aos 4 anos, mais de metade (57,3 por cento) das crianças foi levada à consulta ou à urgência, ao contrário do grupo etário dos 45-54 anos, que foram os que menos procuraram cuidados de saúde (14,3 por cento)".

Um dado que fundamenta a conclusão de que "os problemas de saúde na época de frio associam-se ao grupo etário, parecendo que as famílias dão mais importância aos que afectam as suas crianças, do que aos que afectam os seus idosos".