Bactéria pode estar na origem da doença de Crohn

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Os autores do estudo apelam a que se dê seguimento ao seu trabalho DR

A investigação dos peritos norte-americano traz novas informações sobre a origem desta doença crónica. Segundo os cientistas liderados por Saleh Naser, foi encontrada uma bactéria responsável por uma doença semelhante à de Crohn nos animais no sangue de indivíduos que sofrem da doença.

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A investigação dos peritos norte-americano traz novas informações sobre a origem desta doença crónica. Segundo os cientistas liderados por Saleh Naser, foi encontrada uma bactéria responsável por uma doença semelhante à de Crohn nos animais no sangue de indivíduos que sofrem da doença.

A bactéria Mycobacterium avium subspecies paratuberculosis (Map) foi dectada pela primeira vez no sangue humano, o que abre caminho para uma nova teoria sobre o que causa a doença. A predisposição genética dos indivíduos para a desenvolver é já um dado adquirido, tendo mesmo sido identificado este ano o gene responsável. Agora, a suspeita de que um factor infeccioso desempenhe um papel no desenvolvimento da doença parece confirmar-se, visto que das 28 pessoas envolvidas no estudo, metade acusou a bactéria nos resultados dos seus testes sanguíneos.

A Map provoca a doença de Johne, que tem características similares e que afecta o gado. Há mais de 20 anos que a bactéria era associada à doença de Crohn, mas estes foram os primeiros testes conclusivos. No passado, pensava-se que o consumo de leite está associado à patologia.

O estudo, publicado esta semana na revista científica britânica "The Lancet", implicou a colheita de sangue em 52 pessoas. Destas, 28 sofriam de doença de Crohn, nove de colite ulcerosa (outra doença infecciosa do intestino) e 15 não tinham qualquer problema digestivo. A bactéria viva foi encontrada em 14 dos pacientes com Crohn, mas nenhuma pessoa sem doença de Crohn acusou a presença do microorganismo. Duas das pessoas com colite ulcerosa tiveram resultado positivo sobre a presença da Map, mas o estudo esclarece que tudo indica que os dois pacientes sofrem na verdade de Crohn, visto que as doenças são semelhantes em muitos aspectos e por vezes difíceis de distinguir no diagnóstico.

Agora, pede o líder da equipa de investigadores, é necessário um estudo em grande escala para confirmar a hipótese."Se estivermos certos, a Map estará presente numa proporção muito maior de pessoas com Crohn". A bactéria, explica Saleh Naser, "está mais presente do que pensamos". "Sabemos que o gado e ovelhas têm esta bactéria, por isso é possível que os animais estejam a propagar a doença e que a pasteurização não esteja a ter o efeito desejado", alertou.

O professor Warwick Selby, especialista na área do Royal Prince Alfred Hospital, na Austrália, comenta na mesma edição do "Lancet" que o estudo não prova que a Map seja uma responsável directa, mas "levanta muitas questões importantes" e torna-a incontornável no estudo da doença de Crohn, pelo que considera que "estes achados têm agora de ser replicados noutros laboratórios".

A doença

A colite ulcerosa e a doença de Crohn têm sintomas similares e consequências semelhantes, mas são patologias com terapêuticas e indicações distintas. Ambas obrigam a um estrito controlo da dieta e a medicação regular e o seu diagnóstico é complexo. A sua incidência tem aumentado exponencialmente nos últimos anos, pensando-se que existiam, há dois anos, dez mil portugueses com a doença, número que, segundo as previsões do Ministério da Saúde, chegará, no início do próximo ano, aos 25 mil.

A colite ulcerosa é uma inflamação da mucosa do intestino grosso ou do cólon. A inflamação provoca dor e pequenas úlceras que podem sangrar. Os primeiros sintomas são dor tipo cólica abdominal e dejecções diarreicas, frequentemente com sangue. Além disso, tal como na doença de Crohn, pode haver dor nas articulações e lesões da pele.

A inflamação provocada pela doença de Crohn pode surgir em qualquer segmento do sistema digestivo, sendo mais comum no intestino delgado. Os sintomas são variados, de acordo com as zonas inflamadas. Mais uma vez, a diarreia e a dor abdominal são sinais iniciais do problema.