Identificado vírus causador da pneumonia atípica

Foto
A doença justifica medidas de prevenção nos aeroportos Mauricio Lima/AFP

A descoberta e identificação precisa do vírus que está a alarmar a Ásia permite agora que os médicos criem um teste de diagnóstico rápido para que se saiba desde logo se o doente padece da síndroma respiratória aguda (SRA).

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A descoberta e identificação precisa do vírus que está a alarmar a Ásia permite agora que os médicos criem um teste de diagnóstico rápido para que se saiba desde logo se o doente padece da síndroma respiratória aguda (SRA).

Um dos estudos foi desenvolvido pela equipa de Larry Anderson, do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças dos EUA, que testou amostras de doentes com pneumonia atípica em seis países. “Dezanove doentes com SRA foram identificados como estando infectados com o novo vírus 'Corona'. Todos têm ligações directas ou indirectas com o surto de SRA em Hong Kong e na província de Guangdong, na China”, dizem os investigadores.

“Um vírus 'Corona' com as mesmas sequências [genéticas] também foi detectado num paciente com SRA no Canadá”, adiantam os peritos no seu trabalho para a revista científica, propondo que o vírus receba o nome do Dr. Carlo Urbani, o médico da OMS que morreu em Março depois de ter tratado um dos primeiros doentes infectados, no Vietname.

O vírus tem um comportamento variável e os cientistas não põem de parte que ele ou outros micróbios contribuam para que os doentes fiquem mais doentes ou mais permeáveis à transmissão da doença. Os estragos nos pulmões dos pacientes não são do tipo causado pelos vírus “Corona” mas sim próprios de doenças como o sarampo ou vírus respiratórios. A equipa de Anderson acredita que possa ser o próprio sistema imunitário do corpo a causar tais estragos como resposta ao vírus.

A equipa do CDC está agora a tentar identificar a sequência de ADN do vírus para perceber melhor de onde vem e o que é, concretamente, visto que tudo indica que é um novo vírus – não há anticorpos para a doença, nem em humanos nem em animais testados.

O segundo estudo que aponta para a família “Corona” é de Christian Drosten do Instituto de Medicina Tropical Bernhard Nocht, em Hamburgo, juntamente com colegas alemães, franceses e holandeses.Os cientistas testaram 18 pacientes com a síndroma em Hanoi (Vietname) e 21 pessoas saudáveis que estiveram em contacto com os doentes. Todos com a síndroma tinham o vírus e nenhuma das pessoas saudáveis tinha o vírus no sangue, sendo que em 23 por cento dos casos de suspeitas da síndroma, o vírus foi encontrado.

No mundo, a doença atingiu 2781 pessoas - só ontem houve 59 novos registos -, mas mais de 1300 já recuperaram, segundo informa o mais recente relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS). Um total de 111 doentes não resistiram à pneumonia atípica, para a qual não há cura e cuja origem continua envolta em mistério. China (1290 infectados e 55 mortos) e Hong Kong (998 infectados e 30 mortos) são as regiões mais fustigadas.

Alguns países europeus detectaram também a existência de doentes com sintomas passíveis de serem de pneumonia atípica, como o Reino Unido (cinco infectados). Mas são o Canadá (já com uma dezena de vítimas mortais) e os Estados Unidos, os que, fora da Ásia, têm mais casos.

Entretanto, em Portugal, a doente que levou as autoridades portuguesas a comunicarem à OMS a possibilidade de haver um caso de pneumonia atípica em território nacional deverá ter alta hoje. A mulher, que regressou recentemente de Hong Kong e que tem estado internada há vários dias, em Lisboa, "reagiu bem aos tratamentos e não desenvolveu pneumonia", informa Ana Margarida, do gabinete de imprensa do Ministério da Saúde.