Pedofilia em Portugal ocorre sobretudo na família

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Partindo da análise de 32 casos de abusos sexuais, a investigadora Cristina Soeiro, do Instituto de Ciências Criminais da Polícia Judiciária, conclui que a maior parte dos pedófilos "estão no seio familiar".

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Partindo da análise de 32 casos de abusos sexuais, a investigadora Cristina Soeiro, do Instituto de Ciências Criminais da Polícia Judiciária, conclui que a maior parte dos pedófilos "estão no seio familiar".

"A grande tendência é dos agressores estarem no interior da família, mas há dois tipos diferentes: uns cometem incesto e têm histórico de abuso sexual fora da família e outros têm relações incestuosas mas só o fazem dentro da família", precisou Cristina Soeiro.

Ressalvando que estas conclusões não são definitivas, a investigadora explica que o projecto-piloto "surgiu da necessidade de caracterizar tecnicamente este tipo de agressores". A investigação, que decorre há três anos, vai prosseguir e no final do próximo ano deverá haver perfis dos pedófilos portugueses "mais definidos", segundo a responsável.

De acordo com a tipologia estudada em psicologia criminal há dois grupos de pedófilos: aqueles que não têm um histórico de abuso sexual desde cedo mas que, por "razões da vida", desenvolvem esta agressão e outros que desde muito cedo têm uma atracção sexual por crianças.

No primeiro caso, o abuso sexual a crianças surge normalmente num mau período da vida. "Com os stress da vida, por exemplo, desenvolvem este padrão de comportamento. São geralmente indivíduos com baixa auto-estima e que, quando apanhados pelo sistema judicial reincidem menos no crime", explica Cristina Soeiro.

Pelo contrário, os chamados "pedófilos preferenciais" reincidem muito mais no crime. Neste caso, são pessoas que desenvolvem muito cedo uma atracção sexual por crianças e toda a sua sexualidade é para aí orientada.

Mas há também pelo menos dois tipos de pedófilos preferenciais. Uns são do tipo violento, têm características psicopatas, agredindo a vítima e chegando, muitas vezes a matá-la.

"Estes casos aparecem não com muita frequência. Mas são agressores que fazem da criança um objecto de satisfação não apenas sexual, mas também de domínio", especifica a investigadora do Instituto de Ciências Criminais.

A maior parte dos pedófilos preferenciais não são psicopatas. São indivíduos que geralmente não têm vida familiar, têm disfunções sexuais e revelam um atraso psico-social. Nestes casos - chamados pedófilos por fixação - o agressor tende a relacionar-se com crianças do sexo masculino.

Em Portugal, e de acordo com os dados até agora estudados pela equipa da investigadora Cristina Soeiro, ainda não é possível ver qual o perfil do pedófilo mais comum. Apesar disso, é já possível concluir que os abusos sexuais de menores acontecem sobretudo na família e as vítimas são geralmente crianças do sexo feminino.