Casa do Gaiato: inspecção revela abuso sexual, trabalho infantil e violência

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Depois do escândalo na Casa Pia, agora é a vez da Casa do Gaiato estar sob a mira das autoridades Daniel Rocha/PÚBLICO

O relatório da inspecção-geral, divulgado hoje pelo "Diário de Notícias", está na tutela há mais de seis meses, sem que nada tenha sido feito. De acordo com o documento, resultado de visitas dos inspectores à instituição após denúncias e duas queixas de violação de crianças do sexo masculino no Tribunal de Vila Nova de Gaia em 2001, há de facto prática comum de abuso sexual entre os alunos, geralmente da parte dos alunos mais velhos, que forçam os alunos mais novos.

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O relatório da inspecção-geral, divulgado hoje pelo "Diário de Notícias", está na tutela há mais de seis meses, sem que nada tenha sido feito. De acordo com o documento, resultado de visitas dos inspectores à instituição após denúncias e duas queixas de violação de crianças do sexo masculino no Tribunal de Vila Nova de Gaia em 2001, há de facto prática comum de abuso sexual entre os alunos, geralmente da parte dos alunos mais velhos, que forçam os alunos mais novos.

A inspecção-geral escreve que "os utentes, independentemente da idade, são molestados sexualmente, de dia e de noite, nos mais variados sítios".

Além de abusos sexuais, a Casa do Gaiato de Paço de Sousa é descrita como um centro de trabalho para as crianças e jovens lá albergados, onde o trabalho infantil convive lado-a-lado com maus tratos e castigos brutais.

A expressão "exploração de trabalho infantil" é usada pelos inspectores para descreverem o regime de sustento da instituição: os rapazes trabalham sempre que não têm aulas e não têm tempo reservado para brincadeiras. Não são remunerados, nem vigiados durante o dia. Há apenas uma funcionária para vigiar os menores de seis anos, numa instituição que alberga mais de 130 rapazes.

Quando as coisas correm mal, os rapazes são submetidos a castigos corporais. O director será, de acordo com o documento revelado pelo DN, o autor e ideólogo dos castigos, que passam por ficar sem comer, espancamento com reguadas em todo o corpo, com o cabo de uma vassoura, até andar mal vestido e protegido no Inverno.

Posto isto, os inspectores concluem que "esta instituição não pode continuar a albergar crianças e jovens por falta de condições" e sugerem que seja lançada "uma auditoria social" para saber o que se passa com todos os utentes.

A reacção do ex-director da Casa do Gaiato

O padre Carlos Galamba, ex-director da Casa do Gaiato de Paço de Sousa, não nega os factos. "Que haja alguma acção desse tipo entre os adolescentes, não vamos dizer que não aconteça". O sacerdote continua e fala dos abusos sexuais como podendo ser "uma tendência sexual que temos todos numa idade ou noutra." E remata: "Quem nunca caiu em tentação?"

O antigo responsável adianta, ainda assim, que o adolescente que primeiro apresentou queixa à justiça "é um provocador" e explica ainda que a ausência de funcionários para tratar dos jovens se deve à ideologia que preside à Casa do Gaiato, recuando ao fundador padre Américo, e que passa pela "obra de rapazes, para rapazes, pelos rapazes".

Já o director da Obra da Casa do Gaiato, o padre Acílio, disse esta manhã à TSF que a inspecção é "falsa" e nega as acusações nela patentes.