Metade dos portugueses tem excesso de peso

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135 milhões de europeus têm peso a mais Adriano Miranda

Entre 65 a 85 por cento da população mundial não pratica exercício físico suficiente, sobrecarregando a factura que os países desenvolvidos têm de pagar por custos de saúde associados à inactividade.

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Entre 65 a 85 por cento da população mundial não pratica exercício físico suficiente, sobrecarregando a factura que os países desenvolvidos têm de pagar por custos de saúde associados à inactividade.

As conclusões do relatório "Obesity in Europe - A Case for Action", elaborado pela International Obesity Task Force e pela European Association for the Study of Obesity, são preocupantes: a obesidade está a crescer "a uma velocidade alarmante" em toda a Europa e sobretudo nos países da UE, configurando uma "epidemia pan-europeia que oferece uma encorpada barreira à prevenção de doenças crónicas e constitui uma ameaça directa à saúde das crianças". São já cerca de 135 milhões (75 milhões de homens e 60 milhões de mulheres) os cidadãos da UE cuja ficha clínica inclui, a sublinhado, a expressão excesso de peso - com o alargamento, serão mais 70 milhões. E os países em que a faixa de população afectada ultrapassa os 50 por cento deixaram de ser excepção para passar a regra . Em muitos casos, as taxas duplicaram em poucos anos - e podem voltar a dobrar nas décadas que se avizinham, avisa o relatório.

Ser clinicamente obeso é quase um livre-trânsito para problemas como hipertensão, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e cancro: as estimativas mais recentes indicam que, a cada ano que passa, sejam diagnosticados na UE 78 mil novos casos de cancro provocados por excesso de peso. E não é só a epidemia que dispara: embora continuem subestimados, os custos da obesidade sobrecarregam cada vez mais o bolso dos estados-membros. A nível comunitário, crê-se que, em média, os Governos gastem cerca de oito por cento dos seus orçamentos de saúde com os problemas associados à obesidade.

Mas essa é apenas a ponta do icebergue: os custos indirectos do excesso de peso estão por contabilizar. Um estudo da Roche Farma, citado no relatório, concluiu que um obeso-tipo gasta, entre produtos parafarmacêuticos, ginásios, massagens e consultas, cerca de 58 euros por mês. De resto, o estudo sublinha que é urgente regulamentar o "mercado paralelo" da obesidade - "médicos não ortodoxos que apregoam grandes taxas de sucesso, clubes de emagrecimento que cobram à sessão, produtos dietéticos" -, uma indústria que, calcula-se, movimenta em toda a UE cerca de 15 biliões de euros ao ano.

O ambiente "obesogénico"...

O relatório traça o retrato da obesidade europeia, induzida por uma dieta hipercalórica, rica em lípidos e açúcar e pobre em frutos e vegetais, e por um estilo de vida cada vez mais sedentário, que rarefaz as oportunidades para fazer exercício físico. A cultura do "snack" promove "um sobreconsumo passivo de energia que se destina quase exclusivamente ao armazenamento: graças à tecnologia, as tarefas domésticas e laborais exigem cada vez menos esforços. E o tempo livre raramente é preenchido com actividades desportivas - até os mais velhos, especialmente vulneráveis aos riscos da obesidade, são "encorajados a gozar uma reforma relaxada".

Os agentes responsáveis por este "ambiente obesogénico" são comerciais, denuncia o relatório. A conspiração da obesidade envolve estratégias de "marketing" e manobras de "lobbying" - mas usa também agentes como a predisposição genética para o excesso de peso, as mães que não amamentam, as famílias que trocam comida caseira por uma "pizza" aquecida no micro-ondas, as escolas e os bairros que não investem em estruturas desportivas e áreas de lazer, os poderes locais que não libertam ruas para bicicletas e peões e os media que veiculam imagens corporais estereotipadas.

O relatório é muito claro: a obesidade é um problema cuja responsabilidade é partilhada. Os autores do documento convidam a Comissão Europeia (CE) e os governos a um olhar panorâmico sobre o tema, promovendo novas estratégias multisectoriais de prevenção. Entre os quinze, apenas a França pôs em marcha um programa governamental de combate à obesidade.

...e pistas para a acção

Os autores do relatório sugerem à UE várias estratégias. Proibir a publicidade aos produtos hipercalóricos e incluir nos rótulos advertências como "prejudica gravemente a saúde" - a exemplo do que se fez com o tabaco - é um dos primeiros passos. Há outros: a CE deve incluir a luta contra a obesidade infantil no seu plano de acção sobre nutrição, a aprovar a 7 de Novembro no próximo conselho de ministros da Saúde, e fazer da investigação sobre as pressões que estão por trás do consumo alimentar inadequado uma prioridade a incluir no novo Programa-Quadro de Saúde Pública (2003-2008). E deve ainda promover um relatório que dê conta dos progressos dos Estados membros e dos países candidatos no desenvolvimento de políticas de nutrição e de combate à obesidade infantil, a entregar na conferência sobre nutrição proposta pela presidência grega da UE para a Primavera de 2003.

Há mais vias: campanhas de promoção do aleitamento materno, proibição do acesso das crianças a restaurantes de "fast-food" em horário escolar, mecanismos de promoção do consumo de vegetais (a Finlândia consegiu fazê-lo triplicar em 20 anos) e introdução de um sistema mais pedagógico de rotulagem dos alimentos, por exemplo. O esforço deve incidir também nos hospitais e centros de saúde - que devem passar a ter ginásios onde se desenvolvam programas-piloto de exercício físico para grupos específicos de doentes - e nas políticas de transporte. Favorecer a criação de ciclovias e encorajar os empresários a criar grelhas para o estacionamento de bicicletas e estruturas de lazer no local de trabalho são alvos prioritários. Promover a segurança nas ruas, através de truques básicos como extensas zonas pedonais, boa iluminação, passeios largos e limitação do estacionamento, é outra linha estratégica para animar as actividades ao ar livre.