Direcção da Moderna deu Jaguar a ex-gestor pelo seu bom trabalho

Foto
PUBLICO.PT

Segundo o arguido, ouvido em mais uma sessão do julgamento do caso Moderna no tribunal de Monsanto, em Lisboa, José Braga Gonçalves, filho do então reitor da universidade e homem forte da gestão, e o tesoureiro José Vitoriano, disseram-lhe para que escolhesse um carro para uso pessoal, sem limite de preço.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Segundo o arguido, ouvido em mais uma sessão do julgamento do caso Moderna no tribunal de Monsanto, em Lisboa, José Braga Gonçalves, filho do então reitor da universidade e homem forte da gestão, e o tesoureiro José Vitoriano, disseram-lhe para que escolhesse um carro para uso pessoal, sem limite de preço.

Depois de consultar vários "stands" de automóveis, Carlos Fernandes explicou que escolheu um Jaguar porque a utilização em leasing não iria custar mais de 1245 euros por mês à cooperativa de ensino. Os juízes Manuela Barracosa e Ricardo Cardoso acabariam por corrigir o arguido, indicando que o preço do Jaguar MXK8 Convertible era de 119 mil euros, o que implicaria que a universidade iria pagar uma mensalidade de 2878 euros e não 1245, durante 36 meses.

Sustentando estar a ser mal pago à hora pela universidade enquanto consultor, em comparação com profissionais do ramo de empresas multinacionais a trabalhar em Portugal, Carlos Fernandes achou que a sua decisão tinha sido justa.

Questionado porque não tinha optado por um Rolls Royce, Carlos Fernandes respondeu que "isso era um exagero" para uma "pessoa sensata" como ele.

Indicando não saber se a sua decisão tinha sido mal recebida pelos membros da direcção da universidade, o arguido disse ser pouco provável dado que "nunca pediu nada" e que a iniciativa tinha partido de José Braga Gonçalves e José Vitoriano.

Outra das questões levantadas, desta vez pelo juiz Jorge Raposo, foi como Carlos Fernandes justificava a despesa com o Jaguar, quando o arguido tinha acesso à contabilidade da universidade e sabia que a Moderna estava a gastar mais do que devia. O réu respondeu que a aquisição da viatura foi anterior ao relatório de 1998 do Revisor Oficial de Contas e que "uma coisa não tinha a ver com a outra", cita a Lusa.

Carlos Tavares e Paulo Portas com o mesmo gosto para marcas

O nome de Paulo Portas voltou à baila no tribunal, quando Carlos Tavares foi inquirido sobre a empresa Amostra, centro de sondagens dirigido pelo líder do CDS-PP. O arguido disse só ter tido conhecimento que Portas também tinha um Jaguar pago pela Moderna quando alguém comentou a opção pela mesma marca. "Era uma pessoa que tinha notoriedade, estava à frente do semanário 'Independente'. Se calhar, impôs essa condição", argumentou.

De novo, Carlos Fernandes disse não ter ocupado qualquer cargo de gestão na Moderna ou ter conhecimento dos pagamentos da cooperativa Dinensino à Amostra, atribuição de viaturas, compra de acções de empresas de comunicação social, circulação de cheques e alegados pagamentos a jornalistas.

Quanto à acusação de associação criminosa e gestão danosa a si atribuída, nomeadamente os 75 mil euros de compras pagas pela Moderna na loja na Rosa e Teixeira, Carlos Fernandes diz nunca se ter vestido na dita loja. Mas, sublinhou que os irmãos João e José Braga Gonçalves se "vestiam bem" e houve sim despesas avultadas na Loja das Meias, apesar de também aí não ter adquirido bens de valores avultados.