Os “tachos” do Chega

O primeiro-ministro explicou que (...) não fazer acordos de governação não significa que o Chega não deva avaliar de forma “madura” as propostas do PSD na Assembleia da República.

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Se ainda havia dúvidas de que Luís Montenegro estava decidido a levar até ao fim o “não é não”, o primeiro debate quinzenal na Assembleia da República da era AD dissipou-as. O primeiro-ministro reservou para o fim da discussão um dos maiores ataques ao Chega, que mostra como está decidido a elevar o nível de dramatização.

O primeiro acto tinha sido a queixa sobre as forças de bloqueio no discurso de tomada de posse, que surgiu até como desproporcionado. O Governo ainda mal tinha sido empossado e já havia motivos para imitar Cavaco na recta final dos seus mandatos a bradar contra as “forças de bloqueio”? Na altura, as forças de bloqueio seriam socialistas, no entender da AD. As miras estavam todas apontadas para o PS de Pedro Nuno Santos e tem sido assim nos últimos dias.

Em pleno hemiciclo, depois de várias horas de um debate em que houve gritos e chamadas de atenção do presidente do Parlamento, José Pedro Aguiar-Branco, pelos desrespeitos do Chega, Luís Montenegro voltou as baterias para André Ventura. O PSD já não contava com o Chega para qualquer acordo mais duradouro. Agora, está apostado em mostrar como o Chega se tornou o seu maior adversário.

Não foi manso nas palavras. “A vossa confusão corresponde à vossa birra e imaturidade política e a uma visão sectária. Uma coisa é não termos aliança de governo, outra é dizer ‘sim’ à representação dos eleitores. (...) Só estavam mesmo preocupados com as cadeiras e tachos deste lado [do Governo], era isso?”, atirou o primeiro-ministro, referindo-se às várias vezes em que o partido de Ventura disse estar disponível para fazer um acordo de governação com o PSD e indicar até três ou quatro nomes para pastas ministeriais.

Também houve pressão sobre Pedro Nuno Santos, com quem até Montenegro se reuniu esta semana para discutir a localização do novo aeroporto internacional de Lisboa, mas o que ficou foi a acusação na declaração final sem direito a réplicas dos partidos.

Em tom mais paternalista, o primeiro-ministro explicou que o partido de Ventura teria percebido mal o significado do seu “não é não”, porque não fazer acordos de governação não significa que o Chega não deva avaliar de forma “madura” as propostas do PSD na Assembleia da República. “Estão mais socialistas do que os socialistas”, insistiu.

O PSD não perdoa ao Chega o volte-face em poucas horas na votação da abolição de portagens nas ex-Scut. O partido chegou a assumir que não votaria a favor, tal como o PÚBLICO noticiou, mas acabou por mudar de ideias. Montenegro finalmente percebeu que o problema não é o PS. O troféu do mais incoerente vai todos os dias para o Chega.

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