Discutir o Estado Social é fácil porque atinge pessoas sem voz, diz Bagão Félix

Bagão Félix criticou o uso do princípio da subsidiariedade em Portugal.

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Bagão Félix: “Custa-me ver a discussão sobre a sustentabilidade do Estado social" Carlos Lopes

“O Estado social discute-se porque é a parte do Estado que tem mais que ver com as pessoas que são velhas, reformadas, desempregadas, estão doentes, estão sós, têm incapacidades, pessoas que não têm voz, não têm lobbies, não abrem telejornais, não têm escritórios de advogados, não têm banqueiros”, disse o conselheiro, na abertura de uma conferência sobre a crise promovida esta sexta-feira, em Lisboa, pela Fundação Liga.

Para Bagão Félix, a vulnerabilidade destas pessoas é que leva a que seja “relativamente fácil” discutir esta reforma, que na sua opinião está a ser conduzida de uma forma “estúpida” porque é colocada como se fosse uma questão de estar a favor ou contra essa reforma do Estado social, quando “infelizmente o filme não é a preto e branco”, mas tem coloridos.

“Custa-me ver a discussão sobre a sustentabilidade do Estado social, quando não vejo ser discutida a sustentabilidade das outras funções do Estado”, afirmou, salientando que não se assiste a discussões sobre a sustentabilidade das infra-estruturas do Estado ou das Forças Armadas.

Bagão Félix criticou ainda o uso do princípio da subsidiariedade em Portugal, para dizer que é “constantemente pervertido”: “Temos uma sociedade muito condicionada e subsidiada junto do Estado e isso reduz a nossa capacidade de autonomia, de prevenção, de conseguirmos resolver os problemas por nós próprios, sem sempre nos socorrermos do Estado.”

Artur Baptista da Silva criticou a austeridade que se vive na economia europeia, defendendo que, no contexto político e social que vivemos, a austeridade significa “perversidade e violência abusiva” e falta de respeito pelos direitos fundamentais das sociedades, ao impor regras que privam a liberdade de escolha e cidadania.

A redução “drástica” da qualidade dos políticos europeus nos últimos 50 anos é a razão, segundo o mesmo convidado.

“Deixámos de ter estadistas e passámos a ter homens que vivem à custa do Estado e que se projectam nas sociedades à custa das falácias e das promessas que depois acabam por não ser capazes de cumprir e que eles próprios, à partida, sabiam que não se podiam cumprir. E deixam-se ficar reféns do poder económico”, defendeu Artur Baptista da Silva.

Para ele, nenhuma crise mundial pode ser apelidada de crise económica, porque “é sempre” uma crise política.

“São sempre os políticos que se deixam aprisionar pelos interesses económicos, e se põem ao seu serviço, em vez de se porem ao serviço das populações que os elegeram”, frisou.

Na sua opinião, o capitalismo económico, “que criava empregos”, deu lugar ao actual capitalismo financeiro, que destrói empregos.

“E porque se faz isto?”, questionou, respondendo que a criação de emprego e a rentabilização dos capitais através da economia “demora tempo e tem risco” e a globalização trouxe a ideia de que estar muito tempo no mesmo sítio não compensa porque esse sítio acaba por estar empobrecido e é preciso ir para os outros sítios que ainda não estão tão pobres.

“A deslocalização tem sempre esse objectivo”, concluiu.

Notícia corrigida a 24/12/2012: a partir do sexto parágrafo foi retirada a menção ao consultor do Banco Mundial, funções alegadamente desempenhadas por Artur Baptista da Silva. Isto porque acabou por vir a público que Baptista da Silva ter-se-á apresentado em diferentes momentos com funções que, de facto, não exerce. O PÚBLICO opta por manter publicadas as afirmações feitas neste contexto e citadas neste despacho da Lusa.