Cartas à Directora

O suicídio do co-piloto

Sim, é uma loucura, o que o co-piloto alemão fez... levar consigo 150 pessoas. Levar consigo 150 pessoas, como poderiam ter sido mais ou menos.

A mente humana é imprevisível, complexa, insondável.

Não somos nada... Temos que confiar. A nossa vida depende dos outros, não só de nós. Confiamos (temos de confiar) a nossa vida no motorista do autocarro, do comboio, do metro ou do piloto do avião que nos deveria levar a destinos de sonho ou trazer-nos sãos e salvos a casa de viagens maravilhosas, onde fomos felizes... Não há nada a fazer. Viver a sorte. É uma sorte, a vida.

Céu Mota, Santa Maria da Feira 
 
Ingenuidade, incompetência ou negócio?

A forma como após o 11 de Setembro foi “atacado” o problema da intrusão indesejada da cabina de pilotagem, se não fosse a triste ocorrência permitida, merecia comentários jocosos pela forma brejeira como o problema da intrusão foi tratado, resolvendo um e criando outros de igual gravidade.

Com o actual desenvolvimento da tecnologia, qualquer solução deve conjugar diversas técnicas, de forma a dar resposta que seja simultaneamente objectiva e antecipada a novas ameaças.

E tanta coisa podia ter sido feita para evitar a repetição da ameaça, mas sobretudo para prevenir outros perigos resultantes da solução.

A isso chama-se solução criativa e deve envolver a prevenção contra as ameaças conhecidas antecipando as desconhecidas. Nada disso foi feito, a solução resumiu-se a aplicar técnicas de prateleira, aqueles módulos estavam feitos foi apenas necessário aplicá-los.

Saltamos para o improvável, incompetência. Pessoalmente não acredito, mas acredito em negócio.

O negócio das actualizações, de deixar sempre algo por fazer, de garantir a continuidade do negócio. Tudo compreensível, excepto quando está em jogo a segurança de pessoas num mercado onde a segurança faz parte integral da sua cultura.

Mecatrónica, robótica, inteligência artificial, codificação segura, encriptação, comunicações rápidas e seguras e tantas outras técnicas emergentes deviam ter evitado uma solução tão cretina como a utilizada.

Mais grave, uma solução criada e imposta à indústria do transporte aéreo pela entidade responsável pela sua segurança. 

Ingenuidade, incompetência ou negócio?

Rui Figueiredo, Lisboa

A Terra de Ninguém

Aos 16 anos, era convictamente revolucionário. Todos os dias eram dias de sol. E eu sonhava e acreditava nesse prometido mundo novo onde todos os homens viviam como irmãos e queria lá chegar depressa.

Aos 56 anos, sou conservador. Vivo no meio da tormenta. Descrente dos homens e do mundo, procuro, a todo o custo e com pouca esperança, salvar da enxurrada o melhor da nossa herança comum.

Sinto-me, literalmente, o Romeiro de Frei Luís de Sousa que, no final da sua longa caminhada, constata que afinal o seu mundo já não existia. O mesmo desencanto, a mesma solidão. E o Alentejo, rústico, agreste, desértico, surge naturalmente como o refúgio natural do Romeiro. O tal mundo, descrito pelo ministro socialista Mário Lino, "onde não há gente, onde não há escolas, onde não há hospitais, onde não há cidades, onde não há indústria, onde não há comércio, onde não há hotéis".

O Alentejo fica, assim, no outro mundo, um mundo habitado por seres fantasmagóricos a que o poder de Lisboa não reconhece sequer a existência e que hoje se estende pelo interior do país do Algarve a Trás-Os-Montes. Este é o meu mundo. Um mundo que provavelmente não tem nada a ver com o vosso.

Santana Maia Leonardo, Ponte de Sor

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