Cartas à Directora

Agora é que vai ser!

Não! O título não tem a ver com o Syriza…

Sem grande barulho, o Banco Central Europeu (BCE) “deu”, em Dezembro de 2011, através de um LTRO (Long Term Refinancing Operation), 500 mil milhões de euros aos bancos para “injectar liquidez na economia”. Eles agradeceram, embolsaram e… nada!

Poucos meses depois, em Fevereiro de 2012, presenteou-os discretamente com mais 500 mil milhões. Nada.

No segundo semestre de 2014, o BCE acrescentou um sóbrio T (de target), ao LTRO, que passou a TLTRO, e deu mais 500 mil milhões. Nada.

Agora, o BCE (com ajuda dos bancos nacionais) arranjou uma nova maneira de “dar” aos bancos privados: o quantitative easing. Vai-lhes comprar títulos de dívida no valor de um bilião e cem mil euros e poderá não ficar por aí. Para se perceber a grandeza dos números podemos dividi-los: 500 mil milhões + 600 mil milhões. Tudo para continuar a estimular os bancos a “injectar liquidez na economia”.

Apesar de essa massa toda — os empréstimos a Portugal (78 mil milhões), a Espanha (100 mil milhões) e à Grécia (240 mil milhões), todos juntos, cabem numa de essas fatias , há uns truques pelo meio e a Portugal vai chegar pouco. Quanto aos gregos, só se forem bonzinhos, porque as eleições são uma  enorme chatice e a democracia na Europa das nações é só para quem se porta bem…

Passos Coelho, acusado por António Costa de ter perdido a face por ter sido contra a compra de dívida, apressou-se a esclarecer: O BCE…não está a financiar os estados, está a financiar os bancos a e economia.” (PÚBLICO de 24/1/15).

É que se o BCE financiasse directamente os Estados, os malandros do Sul começavam logo a asneirar e não cumpriam as regras. Já quanto aos bancos e em questões de liquidez, como todos sabemos, dão outra segurança…

Agora é que vai ser!

Jorge F. Seabra, Coimbra

O optimismo e a insensatez

Eu já sei que sou um pessimista e esta característica só a mim me penaliza, porque sofro quando têm razão as minhas apreensões e também quando não têm – ou seja, enquanto o optimista só sofre numa daquelas hipóteses, eu sofro nas duas. É uma vida mais difícil a minha. Vem isto a propósito do Syriza liderado pelo sr. Tsipras, que cada vez mais me parece um aventureiro insensato. Suspeito que se vê a si próprio como o Che Guevara do século XXI; uma nova espécie de illuminati caviar e achou sensato provocar os alemães fazendo no seu primeiro dia uma romagem a um monumento que comemora uma atrocidade nazi. É sensato ou é gratuitamente provocatório? É que se a democracia falou na Grécia, também ela fala na Alemanha e a Grécia bem precisa da boa vontade dos alemães e essa boa vontade expressa-se nos votos. Acho que começou mal provocando os alemães na sua memória mais dolorosa. É assim: não se fala de corda em casa de enforcado e o Tsipras enviou uns metros de corda aos alemães que são quem vota na Alemanha. Como já disse acima, sou um pessimista e sendo assim não espero nada de bom disto tudo.

Oxalá me engane.

Afonso Cabral, Porto

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