Cartas à Directora

O que eu não sabia e fiquei a saber

Eu não sabia uma série de coisas e fiquei a saber, com a entrevista encenada que o primeiro-ministro deu a Gomes Ferreira, na SIC. Uma delas é que o país está melhor do que estava antes de 2011. Mas essa até dou de barato. O que realmente me impressionou foi saber que se tivéssemos cumprido o que preconizava o memorando, os portugueses teriam de fazer mais e maiores sacrifícios. Outra notícia diz respeito ao PEC 4: se tivesse singrado, os sacrifícios seriam, igualmente, mais e maiores. Agora, o que eu já sabia: Passos Coelho não tem decência política. Não vai embora, nem que a vaca tussa, o que quer dizer que Passos Coelho não liga patavina a eleições. Outros já saíram porque perderam eleições autárquicas. O problema é deles, repisou Coelho, seguindo Assunção Esteves. O primeiro-ministro tem um mandato legislativo. E são nas eleições legislativas que responderá. O que existe entremeio, é problemas deles, dos portugueses, claro. Esqueceu-se de dizer, todavia, que o seu mandato legislativo deve-se, sobretudo, a um conjunto de mentiras eleitoralistas, ou melhor, de inverdades, sempre fica politicamente mais correto.

J. Ricardo, Torre de Moncorvo

 

Era tão fácil…

Não seria difícil, no espaço temporal de uma legislatura, pensar e executar a reforma do Estado, cumprindo-se dessa forma um dos mais importantes desígnios do País neste princípio de século. A verdadeira revolução que se deveria ter operado a partir de 74 nunca chegou a concretizar-se, como toda a gente hoje facilmente intui. De que nos serviram as sucessivas reformas políticas por que passámos ao longo destes quarenta anos, se não fomos capazes de reformar o Estado, cuja matriz se mantém de resto essencialmente tributária do aparelho administrativo herdado do antigo regime? Com o Estado que temos, burocrático clientelar e ineficiente, a nossa capacidade de mobilizar os recursos indispensáveis para acorrer aos que mais precisam, e para ajudar a relançar o crescimento económico, estão a ser desperdiçados em despesa pública que o Estado visivelmente não precisava de fazer para cumprir a sua missão. Era tão fácil, mas tudo indica que este Governo não foi capaz de perceber a importância dessa reforma e o caminho que seria necessário percorrer para lá chegar. O famoso “guião” de que se tem falado não é para levar a sério. E, no entanto, era tão fácil, pelo menos, redigir um documento onde fossem sumariados, em termos sérios e coerentes, os princípios e objectivos essenciais da reforma de que o País tanto precisa. Era tão fácil…

Pedro Mesquita, Porto

 

Com um brilhozinho nos olhos

Sérgio Godinho, autor de Os Sobreviventes, é um resistente. O compositor e intérprete é um poeta que faz das palavras, uma tempestade de ternura. Sérgio participou como actor em Os Demónios de Alcácer-Quibir de José Fonseca e Costa, demonstrando as suas qualidades na arte da representação. Sérgio Godinho nasceu no Porto, a cidade que resiste ao cerco de Lisboa. Desde novo que o autor de De Pequenino se Torce o Destino deu azo ao seu talento na comunicação. Em Aos Amores montou o puzzle das paixões, em Ligação Directa ligou-se ao apelo da poesia social, para em Coincidências abraçar o tempo que urge reconstruir. Em Os Amigos de Gaspar e na Boca do Lobo o profícuo cantor seriou a emergência da solidariedade. Celebrar o 25 de Abril, só com um “brilhozinho nos olhos”. Sérgio Godinho, a luta continua!

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

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