Cartas à Directora

Vantagens da guerra fria

O "complexo militar-industrial" (Eisenhower, 1961) entrou em colapso com o fim da "guerra fria" (1989), com despedimentos em massa. A retoma deu-se em 2001 com o "terrorismo" e acentuou-se em 2014. Nos EUA a indústria bélica representa mais de 500 biliões/ano (metade do total mundial), mais de 3% do PIB, mais de metade das despesas com investigação científica. As FA americanas contam com mais de 3.500.000 soldados e a administração, abastecimento e segurança (!) dos quarteis  é concessionada a empresas privadas , quer na América quer nas zonas de combate., onde tais empresas ( os "contractors", nomeadamente a Blackwater)  têm funções militares que escapam aos constrangimentos legais.Actuam ainda onde não há autorização do Congresso, como na Síria e na Ucrânia.As guerras assimétricas e o armamento doméstico são de baixa intensidade e não permitem o desenvolvimento, só o confronto global justifica o grande investimento. Igualmente o sector da "inteligência" lida com verbas similares e, igualmente, ultrapassa o controlo do Capitólio. Citando a revista católica "30 dias", fundada por Giulio Andreoti, "dantes faziam-se armas para fazer a guerra, agora fazem-se guerras para fazer armas".

Joaquim Carvalho, Lisboa

 

Os excedentes da Alemanha
 
O elevado excedente da balança comercial e da conta-corrente da Alemanha, com efeitos negativos nos outros países da UE, foi esta semana de novo criticado pela Comissão Europeia. Sobre isto, que tem a dizer o governo de Portugal?

A Alemanha vem acumulando sucessivos e crescentes excedentes externos. O Público de 21-2-2015 incluiu um artigo do embaixador da Alemanha defendendo a normalidade daquela situação no quadro da Zona Euro, sublinhando a importância das transações fora da UE para aqueles resultados, e enfatizando a comparativa insignificância da contribuição dos PIIGS - em especial da Grécia de Portugal.

O embaixador esquece que o sucesso das exportações da Alemanha fora da UE se deve significativamente ao Euro mantido ‘barato’ em resultado nomeadamente das persistentes dificuldades estruturais de algumas das economias da Zona Euro. Essa situação não é sustentável a prazo, sendo do interesse de todos - da Alemanha e dos outros - que a UE seja um espaço de desenvolvimento partilhado por todos os estados membros, e não apenas pela Alemanha e mais alguns.

Em vez de justificar a persistente acumulação de excedentes, o embaixador faria melhor em contribuir concretamente para o fomento de investimentos alemães noutros países da UE com dificuldades estruturais, designadamente Portugal, que possam contribuir para a diminuição das actuais e insustentáveis assimetrias.

Paulo Tavares de Castro, Professor, FEUP, Porto

 

Futebol e Paralímpicos

É com muita desilusão que venho constatando que há um silêncio desagradável na comunicação social quanto à actuação dos Atletas Paralímpicos. Estes desportistas também entram em competições internacionais e ganham medalhas e a bandeira portuguesa é levada por esse mundo fora. Nem as marcas da natação, nem os encontros de esgrima adaptada… nada é referido no dia a dia da TV ou na maior parte dos jornais. Mas o futebol, meu Deus: começam a falar dois dias antes do jogo, durante o jogo e depois do jogo. São aos três e quatro comentadores a explicar porque é que o calcanhar empurrou para a esquerda e a bola foi para a direita ou porque é que o choque entre os dois jogadores que foram ao chão foi a jogada inesperada da vitória. O não falar, nem escrever sobre outros desportos talvez se deva à falta de “técnicos” na comunicação social. Mas podem chamar os atletas e seus treinadores para irmos aprendendo sobre Judo, Natação, Ténis de Mesa e até sobre os dois pódios que uma jovem esquiadora nacional ganhou.

Maria Clotilde Moreira, Algés

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