Cartas à Directora

José Sócrates e Ricardo Salgado

A justiça terá sempre que utilizar os mesmos princípios para qualquer cidadão, independentemente dos cargos, estatuto social ou posições ocupados. Qualquer cidadão é inocente até ser considerado culpado em julgamento. Uma vez que nos tribunais portugueses não há departamentos de informações que comuniquem, eles próprios, a evolução dos diferentes casos, as fugas de informação são um terreno fértil para condenações antecipadas em praça pública e para as mais diversas conjecturas sobre qualquer caso. Os jornais  abusam das chamadas "fontes" e algumas televisões beneficiam de favores de informação que, quer num caso quer noutro, ninguém sabe quanto custam e porque existem. A partir daí a confusão fica instalada porque  o que as pessoas conhecem não é a versão oficial, mas somente as diferentes interpretações dos diversos comentadores. 

Recentemente, Ricardo Salgado, suspeito "da prática de crimes de burla, abuso de confiança, falsificação e branqueamento de capitais" (cito) foi condenado a um caução de 3 milhões de euros, proibição de ausência do território nacional e proibição de contactos com determinadas pessoas. Ontem, José Sócrates, foi condenado a prisão preventiva,  acusado "de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção" (cito). Considerando que as medidas de coacção são aplicadas em função da perigosidade daa pessoas em causa e que o juiz Carlos Alexandre não tornou ontem público os fundamentos da medida ontem aplicada, posso concluir que aquele magistrado entendeu que José Sócrates é muito mais perigoso do que Ricardo Salgado. Será verdade ou será que mais uma vez o poder económico foi mais protegido que o poder político? Bom, era que todos, desde o cidadão mais simples, ao banqueiro e ao político, fossem iguais perante a lei. Será que esse dia chegará?

Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora

 

O primo do tio da avó da moça

Era com uma ladaínha deste tipo que, desde a infância, me lembro de, ironicamente, algum crítico terminar qualquer arrazoado que contasse uma história cheia de ângulos esconsos com atribuição das culpas a alguém indeterminado.

Vem isto a propósito deste desenrolar sucessivo e macabro de "histórias" nacionais, de que a última (ainda o será?) é a relacionada com José Sócrates. E foi-me espoletada pelo texto de José António Cerejo na pág. 8 do PÚBLICO do passado domingo (23/Nov.), que mostra, como exemplo, o caminho enviesado, que é quase tristemente comum a todas as situações similares.

E como é esse caminho? Pois envolve sempre empresas "fantasmas" (ou quase) com nomes esdrúxulos, com políticos ou ex-políticos como sócios fundadores mas que, no entretanto, já não se lembram de o ser ou porque o foram ou até imaginam que aquelas já não existem e por aí fora, num "blá, blá" entediante e nojento mas que continua a fazer-se repetidamente. Isto não sem haver nunca a falta de uma "licenciatura", atamancada ou não, no currículo desses senhores...

E no fim... culpados? O primo do tio da avó da moça ou... todos eles, ou seja... ninguém!

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

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