Cartas à directora

A república das bananas

A propósito dos últimos desenvolvimentos emanados pelas cabeças do Ministério da Educação, qual hidra apocalíptica, importa questionarmo-nos, em nome da República e da saúde da nossa democracia, sobre como é possível um ministro que garantiu, no Parlamento, a respeito dos erros grosseiros dos concursos dos professores, que nenhum professor seria prejudicado e que, passadas três semanas, o que se passou foi o oposto daquilo que proferiu, como é possível, dizia, esse ministro continuar como ministro? Será que ainda ninguém viu a cloaca em que estamos metidos com este Governo? O Presidente Cavaco não vislumbra o superior interesse nacional, como ele costuma, telegenicamente, mencionar?

J. Ricardo, Torre de Moncorvo

Ai Nuno Crato, Nuno Crato

Mas que grande brincadeira que o senhor ministro inventou. Muda de casa, nova escola para os filhos e volta a mudar de casa e volta a reenquadrar os filhos. Têm três semanas para concluir o jogo. Isto é brincar com pessoas, com crianças, com famílias, com o país. Nuno Crato disse há dias que não iria prejudicar ninguém, mas, como vemos agora, a noção do ministro sobre o significado da palavra  "prejudicar" é bastante inovadora. Tudo isto é triste, muito triste, mas o mais chocante é continuar a ver que o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho continua a agir como se nada tivesse acontecido. E assim vamos continuando neste país...

Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora

 Amália

“Povo que lavas no rio…”

De como, nos quinze anos da morte de Amália, em democracia, a reflexão sobre um poema de um salazarista (Pedro Homem de Mello) pode ser tão actual e… implicante.
“Povo que lavas no rio. Que” (pela acção ou omissão…) “talhas com o teu machado” (ou teu voto…) “as tábuas do meu” (e do teu) “caixão…”

Vem a propósito Sophia: “A poesia não é para explicar, é para implicar”.

Talvez alguém diga que isto é mera tresleitura ou petulante “politização” de uma canção que, na poesia, melodia e interpretação, simplesmente, vale por si.

Mas, afinal, tal como a comunicação está muito mais no receptor (e na sua circunstância) do que no emissor, também a canção está muito menos em quem a escreve e muito mais em quem a ouve e em que circunstância a ouve. E, daí, com que “implicação” a ouve.

Tanto mais quando cantada com a voz e a implicação emocional de Amália.

João Fraga de Oliveira, Sta. Cruz da Trapa

A perpétua dura um dia

O caso dos submarinos não mete água, mete nojo! A Comissão de Inquérito Parlamentar pariu um porta-aviões de dúvidas e desconfianças. Os alemães, o BES e os chamados decisores políticos e militares sacodem os drones do capote. A promiscuidade está à superfície. Os mísseis lançados nesse relatório envergonham qualquer um. Resumindo e concluindo: não houve luvas, mas um chapéu que tapou as escotilhas dos submersíveis. Em 40 anos de pseudodemocracia, os casos Freeport, Face Oculta, Euro 2004, Expo '98, Apito Dourado, Monte Branco, Operação Furacão, BPN, BPP, BES, Tecnoforma e as pomposas PPP levam a uma simples conclusão: os portugueses estão rodeados de tubarões. O colapso do portal Citius e a falha na colocação de professores, aliados ao fecho de escolas do 1.º ciclo e ao encerramento de repartições de finanças, correios e tribunais, lançam desconfiança em relação ao futuro. As obrigações perpétuas lançadas pelo BES como aplicação financeira lembram a máxima “a perpétua dura um dia”.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

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