Cartas à directora

Governo vai cortar suplementos

O Governo mandou inventariar os suplementos pagos a funcionários públicos, concluindo que há cerca de 280 suplementos diferenciados, com os quais as finanças do Estado despendem anualmente cerca de 700 milhões de euros. Esta notícia é enroupada com duas situações “caricatas”: o pagamento anual de 32.491 euros para gratificar tratadores de canídeos, e a atribuição de 1496 euros como suplemento para quem, nas cerimónias solenes, seja encarregado de tocar o sino e da colocação de bandeiras.

Estes dois exemplos, extraídos do conjunto dos 280, serão impressionáveis, mas talvez o deixassem de ser, se o “levantamento” tivesse abrangido todos os suplementos suportados pelo OE. É que, se assim tivesse acontecido, os portugueses rir-se-iam ao comparar os cerca de 35.000 euros pagos a quem trata de canídeos, toca o sino ou coloca bandeiras nas cerimónias solenes, com os milhões pagos aos políticos, aos elementos dos seus secretariados, aos assessores e outros colaboradores a título de suplementos a propósito de tudo e de nada, incluindo o que resulta da diferença entre o custo real das refeições servidas no Parlamento e a módica quantia desembolsada pelos deputados.
E não menos boquiabertos ficarão se, da panóplia de suplementos auferidos pelos deputados, constar que deles fazem parte suplementos pela presença em reuniões do Plenário e das comissões. Algo assim como o diretor de uma empresa receber uma senha de presença sempre que se reúna para desempenhar as tarefas próprias da função. Acham que é o que acontece no setor privado?
A. Álvaro de Sousa – Valongo

O dia do vinho fino?

O dia 10 de Setembro marca a data da delimitação geográfica da região de produção do chamado vinho do Porto, iniciativa notável e pioneira no mundo, promovida pelo marquês do Pombal em 1756. Os franceses adorariam certamente que essa primazia tivesse ocorrido em Bordéus ou em Champanhe, mas não foi e o Alto Douro merece sem dúvida esta honra. Não conheço nenhum cenário tão espectacular e imponente, recordando que não é natural, mas sim construído e inicialmente até à força de braços. Os enólogos poderão acrescentar algo sobre as características únicas das suas vinhas.

Este ano, pela primeira vez, celebrou-se nessa data o “Dia do Vinho do Porto”. Ao ouvir um responsável ser entrevistado sobre o assunto, ele referia que mesmo em Portugal a bebida não era suficientemente consumida e divulgada. Fez-me lembrar um comentário que fiz a uns europeus do Norte quando me falaram de uma famosa bebida portuguesa de cor rosada e adocicada, muito popular na terra deles. Eu disse-lhes que isso era uma espécie vinho para quem não sabia o que era realmente vinho e que os portugueses praticamente nem a bebiam.

Uma boa parte do vinho do Porto comercializado é um xarope para quem não sabe o que é o vinho-fino ou tratado, designações durienses na origem. É certo que os seus mercados principais gostam de bebidas docinhas, mas para o vinho do Porto ganhar o respeito pleno dos portugueses e dos povos do vinho, devia haver uma separação mais clara e uma promoção diferenciada entre, dum lado, os xaropes afinados de origem misturada e pouco esclarecida e, do outro, os vinhos sérios, com personalidade e identificação clara geográfica e temporal.

Carlos J. F. Sampaio, Esposende

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