Cartas à Directora

Orgulhosamente pobres!

É impossível ficar indiferente às notícias surgidas recentemente sobre os índices de pobreza no nosso país. Os números do INE são alarmantes, dizendo que existem cerca de dois milhões de portugueses no limiar da pobreza. Agora que estamos prestes a comemorar os 40 anos da revolução dos cravos é triste verificar como continuamos arrogantemente na cauda da Europa. Acresce o facto de que o conceito de democracia tem sido escamoteado e a prática da mesma, insistentemente falseada. Os valores que fundaram as democracias ocidentais, tais como: a liberdade, a igualdade, a solidariedade, não passam de meros conceitos teóricos, sem qualquer tipo de aplicabilidade na prática. Aliás só se lembram deles por estas alturas…Em nome do défice e da dívida, têm-se cometido injustiças consideráveis contra o povo português, que tem resistido heroicamente, com uma paciência inigualável.

A irracionalidade na prática política, dominada pela mercadorização das sociedades é assustadora. Com a agravante de escassearem verdadeiros governantes, capazes de possuir aquilo a que Hannah Arendt chamou “inteligência política por excelência”, que é a capacidade de “ver o mundo do ponto de vista de um outro que nos é próximo.” Todavia, enquanto seres humanos portadores de racionalidade, resta-nos, lutar contra a irracionalidade vigente, olhando para o outro, como um “outro importante”, utilizando uma expressão de John Rawls.

Cabe aos nossos políticos, possuir responsabilidade, sentido de estado e respeito pelos seus concidadãos, olhando para o interesse geral e não para os seus interesses particulares. Se assim não for, será impossível diminuir as desigualdades e as injustiças que grassam, sem nenhum tipo de pudor, na nossa praça pública. Tal como será uma ilusão viver numa sociedade decente e ordenada, onde a justiça não seja um mero conceito teórico, mas, tal como nos diz o filósofo norte-americano Michael Walzer: “um princípio estruturante da acção.”

Por fim, nós bem sabemos que a classe política se habituou a andar em carros topo de gama, mas caro primeiro-ministro, os cidadãos portugueses não têm “vícios” tão sofisticados. Prefeririam antes, emprego e salários que garantissem o mínimo de dignidade.

Nuno Abreu, Braga

 

Taxa sobre produtos nocivos

Segundo as últimas notícias o governo está a equacionar uma taxa sobre produtos nocivos para a saúde.

Pensava eu, ao contrário dos pressupostos desta iniciativa, que este governo (ou qualquer governo que governa para o bem dos seus cidadãos), quando os produtos são nocivos à saúde, não autorizava a venda dos mesmos, pelo facto – precisamente – de que são nocivos à saúde; mas afinal enganei-me, ou seja, a venda destes produtos pode ser autorizada, desde que se possa aplicar uma sobretaxa.

Resumindo, de acordo com este princípio, e sabe-se lá se será princípio, o crime compensa, desde que seja acrescida uma taxa.

Dinis Evangelista, Queluz

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