Cartas à Directora

Está tudo sob controlo

Passos não sabia, o gestor do século e arredores tem amnésia precoce, Costa é cinzento e dúbio. Não faz mal. Aceitamos, desculpamos e continuamos a pagar os impostos – os devidos, os que são inventados e executados  à mão armada – que nos chegam em notificações de penhora via correio.

O Sporting perdeu, o Benfica e o Porto ganharam, o híbrido Castelo Branco faz furor na casa: “O mundo gira e avança, como bola colorida, nas mãos de uma criança.

No próximo fim-de-semana faz sol, Salgado nunca mais é preso, Portas safou-se desta, a Justiça continua no seu melhor, a Saúde melhor não podia estar, o Conservatório de Música de Lisboa continuará a meter água, mas não faz mal porque está quase a deixar de chover.

Cavaco está quase a conseguir terminar o mandato de pior Presidente da República da História da República, mas não faz mal porque o Benfica tem grandes probabilidades de este ano ser campeão. Se não for o Benfica, é o Porto.

O professor Marcelo sobe e segue na cátedra de todos os conhecimentos e saberes, Marques Mendes cada vez está mais apurado na sua missão de gnomo de “Delfos”, Morais Sarmento renasceu sabe-se lá de onde – e bronzeado , só nos falta Sócrates, envenenado pela cicuta vai para tempos esquecidos e longínquos.

Tudo está como deve estar: composto e igual.

Continuamos sem alternativa. Continuamos? Não parece. Haverá votitos para todos nas próximas eleições, a abstenção será enorme mas não conta, e nós felizes, porque parece que no próximo fim-de-semana as temperaturas vão subir, com muito sol e a bela da oportunidade do primeiro barbecue do ano e dos couratos assados. Para alguns, menos, um magnífico brunch de “bruxas” e espumante fino português, numa esplanada à beira-mar.

E “o mundo gira e avança, como bola colorida, nas mãos de uma criança”.

Luís Robalo, Lisboa

Bravo, Diogo Infante

Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2015. Teatro Nacional de D. Maria II. Peça: Cyrano de Bergerac. Na penumbra da sala, ante um público muito interessado e empenhado, focado num palco cheio de arte e vida, na primeira fila da plateia, uma jovem com idade já responsável, repetidamente, abre o telemóvel com cujo écran ilumina o rosto, incomoda parceiros, perturba a relação entre actor e público e faz parar o protagonista da peça – Diogo Infante, por sinal o mais fleumático e brilhante dos portugueses da sua geração –, que, à boca de cena, olha directamente para a pecadora, inquire e acaba por pedir à indigna transgressora de um ritual de respeito e devoção pela arte de Talma que desligue o aparelho... e, num assomo de imperturbável altivez, remata... É uma falta de respeito! Em uníssona salva de palmas – a primeira da noite –, a Casa de Garret saudou, sem tibiezas, o gesto de Diogo Infante e calou a indignidade dos desenfreados utilizadores de telemóveis, em tudo quanto é lugar... até num teatro. O diabo que os carregue... aos telemóveis.

Vítor Escudero, Lisboa

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