Cartas à directora 02/10

Gabinetes muito bem insonorizados

O simpático e luxuoso gabinete do senhor ministro da Educação está muito bem insonorizado, para que o silêncio seja absoluto, para que se possa pensar em tranquilidade.
Todos os gabinetes de todos os ministros são simpáticos e igualmente preservados de ruídos nefastos.
Não se pode trabalhar por Portugal e pensar bem, com a poluição sonora, constante, intromissora, agressiva aos ouvidos, que vem constantemente, diariamente, do exterior.
Se há algo de bom, bem feito e eficaz neste país, é a qualidade da construção e dos acabamentos dos gabinetes.
Hoje ouviu-se na Avenida 5 de Outubro o Hino Nacional, cantado por quem o sabe cantar bem: os alunos do Conservatório de música. Mas o ministro não ouviu, embrenhado feericamente, nos números que trata por tu, colocando e deslocando nas células do Excel fórmulas esotéricas e de grande abstracção.
Seria abusar, se pedisse a alguém da vossa agremiação, que me desse os contactos de um bom empreiteiro para solucionar os problemas do meu quarto? É que não consigo dormir com o roncar dos vizinhos de cima.
Autorizo-o, senhor crato, a passar esta minha mensagem à sua lista de contactos, pode ser que me ajudem a resolver o problema: Coelho, portas, albuquerque, machete, macedo, macedo, branco, cruz, guedes, maduro, lima, silva, soares.
Agradecia que me contactassem após as 18h00, que até lá estou a trabalhar para ver - não já se como todos os dias qualquer coisita - mas se consigo pagar dívidas da Alta Autoridade que agora começaram a aparecer na minha caixa do correio. Coisas de 1894, 1912, que com os juros de mora, ascendem a milhares dos euros de agora.
Obrigado pela vossa ajuda.
Luis Robalo, Lisboa

 
Este país está demente

Não é possível calar por mais tempo, embora possa desagradar a muitos jornalistas que não têm culpa deste estado de coisas. A comunicação social sente-se obrigada a repetir notícias até à exaustão, de tal forma que o ouvinte e leitor corre o risco de entrar em estado de demência. Em vez de se estabelecer uma hierarquia no noticiário nacional e estrangeiro, arranjam-se assuntos caseiros de política, de futebol ou outros, fazendo especulações, organizando debates ou entrevistas, verdadeiros massacres sobre o pobre cidadão. Exemplos, mesmo para quem gosta de futebol, são as tricas dos sábios comentadores nos diversos canais televisivos. O mais bizarro é que aquilo a que se deu enorme importância hoje, foi substituído amanhã por um novo escândalo e esquecido o precedente. Em parte nenhuma do mundo se assiste a este frenesim mediático e pouco saudável, a não ser talvez em países de grande dimensão e importância. A explicação deve vir da nossa pequenez e complexo. O nosso povo tem felizmente evoluído muito e já tem dificuldade em aceitar a repetição cansativa destes pequenos “dramas” internos. Basta!
Raul Fernandes, Porches
 

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