Cartas à directora 01/10

Baixa política

Está aí mais uma daquelas demagogias e parolices à portuguesa. Mais uma vez a direita, e uns quantos mais ao centro, vão por estes dias colando António Costa à governação de José Sócrates, na tentativa de o descredibilizar. Estamos perante um completo absurdo, pretendendo a direita evitar, certamente em vão, a chegada do atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa a futuro primeiro-ministro. Quer dizer que Costa jamais poderia candidatar-se a qualquer cargo político ou ter pretensões de ser outra coisa qualquer que não presidente da autarquia de Lisboa. E logo ele, a quem quase todos identificam largas qualidades de liderança. Só que tem o pecado original, ou mortal, de ter sido, em dado momento, o número dois de Sócrates. Como se não bastasse, ainda o crucificam por aparecer rodeado por um punhado de históricos do PS. Históricos, dizem, conotados com o socratismo, esquecendo que esses históricos há muito que já cá andavam. O socratismo passa e os históricos ficam. Em política, de facto, tem que se estar sempre preparado para tudo. O PS é um partido essencial à democracia, assim como o PSD, para falar apenas dos dois maiores. António Costa não tem que ter reservas de espécie alguma. Ganhou as primárias do PS e ponto final. Como muito provavelmente será o próximo primeiro-ministro de Portugal, começou a muito portuguesa e habitual baixa política. O combate começa agora!
José Manuel Pina, Lisboa


O Marão por um túnel

Em tempo de conversa como as cerejas e, porque parece estar na altura de ir ao celeiro e abrir o mealheiro, dizem-nos que as obras no Túnel do Marão vão arrancar até final de Setembro, concluindo-se assim a “autoestrada da justiça”, (lembram-se?) lá para o final do próximo ano.

Os cerca de seis quilómetros que ligam parte do percurso de Vila Real a Amarante por um túnel fazem parte da construção da Autoestrada transmontana. A obra começou no Verão de 2009 e deveria estar concluída em Novembro de 2012. Esteve parada três vezes, duas pela interposição de duas providências cautelares e uma outra pela suspensão do consórcio de construção. Com mais de setenta por cento da obra realizada e paga (dum valor total estimado de 350 milhões de euros, pagou-se mais de metade, 200 milhões), o ministério das obras públicas veio resgatar a obra, promoveu um novo concurso, de que resultou, agora, o reinício das obras.

Primeiro era tudo fácil, como pressupunha a engenharia financeira da construção do projeto: As empresas da Somague e da Soares da Costa concessionaram a obra; a CGD e o Banco Europeu de Investimento financiaram-na; os utilizadores pagariam com as portagens. A proteger todo o risco de investimento, a sombra protetora do Estado.

Rapidamente tudo começou a ruir como um castelo de cartas. Primeiro, o dinheiro ficou mais caro. Depois, o fundo de risco, que visa compensar a exploração por eventuais perdas na procura de tráfego, levou a concessionária a meter marcha atrás, porque temeu que passem menos carros do que o inicialmente previsto e, como não se pode obrigar a cumprir contratos e o guarda-chuva do Estado ficou inutilizado pelo vendaval da crise, a obra parou.

Cinco anos decorridos desde o início da obra, mais de três anos parados, com certeza teria sido mais fácil mudar o Terreiro do Paço uma semana para Vila Real, e obrigar os senhores membros do governo a viajar todos os dias para o Porto nas curvas do IP4. Nenhum transmontano estará completamente crédulo desta nova vontade e resta-lhe esperar sentado!

José Alegre Mesquita, Carrazeda de Ansiães

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