O ChatGPT vai à universidade, deixemo-lo entrar

Em geral, em contexto lectivo, a resposta foi de resistência à mudança, restringindo a nova ferramenta pelo medo de facilitar a “fraude” académica, ao invés de repensar o modelo e incorporá-lo.

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A discussão sobre o ChatGPT nas universidades está cada vez mais acesa. Unsplash

Num café de fim de dia, trocamos opiniões sobre a educação e sobre o mundo em geral, esbarrando no tema que vai interrogando cada vez mais as universidades: o ChatGPT. Decidimos traduzi-lo da melhor forma possível, para que outros partilhem da reflexão de uma estudante de Medicina e de um estudante de Engenharia, e que se vão ocupando com outras experiências na vida.

A conversa começava comigo, Margarida, a explicar ao Rui como a discussão sobre o uso desta plataforma de Inteligência Artificial nas universidades está cada vez mais acesa. Esta ferramenta foi lançada há cerca de três meses e utiliza a inteligência artificial para gerar textos numa linguagem considerada natural, isto é, semelhante à linguagem de um ser humano. O sucesso está em oferecer, a quem a utiliza, uma forma simples de conversar e de obter respostas sobre temas diversos, analisando dados de uma forma rápida. Podendo esta ser uma ferramenta de apoio, naturalmente, os estudantes começaram a utilizá-la em força gerando, então, um novo desafio às universidades exigindo mais uma alteração ao seu modelo de Ensino.

Antes que avançasse na conversa, o Rui reforçou a preocupação pela iminência de uma segunda reforma das metodologias de Ensino das universidades, num curto período de tempo. Ele exercia as funções em que hoje me encontro, Presidente da Associação Académica da Universidade do Minho, quando passamos pelas restrições da pandemia covid-19 e partilhava como isso obrigou as universidades a renovar-se, principalmente naquilo que diz respeito às ferramentas digitais enquanto parte integrante e complementar do ensino. No entanto, essas alterações não se consolidaram e, com o levantamento das restrições pandémicas, tivemos um retrocesso. As universidades continuaram a progredir, mas não estão a avançar tão rápido quanto o sistema carece. A entrada da Inteligência Artificial era apenas uma questão de tempo.

E é isso mesmo que acontece neste momento na universidade. Em geral, em contexto lectivo, a resposta foi de resistência à mudança, restringindo a nova ferramenta pelo medo de facilitar a “fraude” académica, ao invés de repensar o modelo e incorporá-lo. Neste campo, partilhava como num questionário realizado pela Universidade do Minho só 9% dos docentes afirmam que o uso do ChatGPT em contexto de avaliação não constitui uma infracção à integridade académica, números interessantes face aos 42% dos estudantes com a mesma opinião. É evidente uma discrepância entre docentes e estudantes, da forma como vêem esta plataforma. Preocupa-me que a discussão caia no sentido de procurar perceber como limitar o seu uso e não em como, com esta ferramenta, se torna ainda mais clara a necessidade de rever os métodos de ensino, em especial, das metodologias de avaliação.

Ainda neste campo, partilhava com o Rui, o quão difícil, mas pertinente é a mudança e que, por isso, me preocupa que não se compreenda que, no momento da passagem da universidade para o mercado de trabalho, estranho será aquele que não utilize ferramentas como esta. É um aumento da produtividade semelhante àquele que existiu com o aparecimento do computador e da internet em relação aos livros e fotocópias. De um dia para o outro, procurar ideias ou palavras deixou de passar pelo folhear de diversas páginas, para clicar num simples Ctrl+F ou utilizar um navegador da internet. A finalidade é a mesma, o percurso é que é muito mais rápido.

O que precisamos é que as universidades usem estas ferramentas para irem mais longe nas aprendizagens, porque as que souberem capacitar os seus alunos para se adaptarem, serão universidades que melhor os ensinam e preparam para o futuro.

Neste ponto da conversa, o Rui focava-se na importância de pessoas como eu assumirem estas batalhas e forçarem as universidades a irem mais longe. Dava-me como exemplo os dados lançados pela Fundação José Neves em que o aumento da Educação não tem correspondido a um aumento da produtividade, um sinal claro de que a Educação em Portugal tem de se reinventar, tem de ir ao encontro do dia-a-dia das nossas organizações, principalmente das mais avançadas.

No final do seu percurso académico, um estudante terá de ser capaz de corresponder nas organizações mais desenvolvidas e de contribuir para a evolução das que ainda se querem superar. Para isto, as universidades também têm de saber manter as suas portas abertas, para que os estudantes se sintam parte delas. Só com o pensamento de que as universidades são abertas ao mundo e são espaços onde a inovação e o futuro são sempre bem acolhidos é que estas podem ser aquilo para que existem, espaços de conhecimento.

Enquanto jovens e estudantes, exigimos no presente as alterações que permitirão estarmos mais preparados no futuro, sem que esta seja uma guerra entre alunos e professores. Aliás, a ideia é completamente o contrário, nós, estudantes, queremos avançar e estaremos cá para apoiar a evolução, participando, exigindo e reivindicando por condições em que ambos os docentes e os estudantes tenham as oportunidades de construção desse futuro, seja nos recursos financeiros, humanos ou materiais. Porque precisamos de evoluir, pelo bem do país.

Nem sempre as nossas conversas são tão aborrecidas, mas achamos que esta seria excelente para partilhar.

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