Adriano Moreira, uma vida exemplar
Adriano Moreira até aos seus últimos dias foi inconformado, deixou desafios e tarefas que teremos de continuar.
Escrever sobre Adriano Moreira cria no autor destas linhas uma noção de responsabilidade que é incomparável com as várias intervenções públicas que tenho produzido. Assumir um texto sobre o maior pensador dos séculos XX e XXI com que privei de perto gera uma sensação de grande insegurança.
Adriano Moreira refletiu de uma forma única sobre Portugal. Foi concretizando os seus anseios numa carreira académica, num percurso político e numa intervenção social que geraram um conjunto de uma riqueza verdadeiramente singular. Sempre o fez com base numa coerência de princípios e de objetivos exemplar e uma inquietude permanente perante os desafios que de forma constante são colocados à nossa sociedade.
Conheci-o no CDS e não esquecerei a forma calorosa como me acolheu em conversas de lançamento da Escola de Quadros – espaço de formação política de jovens – e da forma como ajudou, participando de forma entusiasmada na sua primeira edição. Mas o legado político de Adriano Moreira ultrapassa em muito o CDS. Ganhou um estatuto interno e externo muito para além do partido, pois pensou sempre o presente e o futuro nacional com coragem e uma profundidade que gerou uma respeitabilidade da esquerda à direita que faz dele figura muito relevante na nossa democracia.
Ao partir do seu passado, aceitou sem qualquer amargura as regras do regime democrático, auxiliou à transição para a sua plenitude e submeteu-se ao juízo do eleitorado, com um discurso à frente do seu tempo. Tornou-se, como pude acompanhar, numa voz sempre ouvida por dirigentes do seu partido, mas também de outras forças partidárias, porque tinha uma posição estruturada pelas necessidades do país e pela sua afirmação no exterior. Diria até que expressava sempre um pensamento profundamente português e patriótico, e de uma forma inovadora afirmou a necessidade de um Portugal virado para o mar, para a sua língua e para a formação integrada da lusofonia. Adriano Moreira até aos seus últimos dias foi inconformado, deixou desafios e tarefas que teremos de continuar. Foi, por tudo isto muito mais importante para Portugal do que para o CDS em que assumiu uma posição única.
Soube caminhar pelas suas várias circunstâncias, com uma adesão profunda aos ideais democráticos, numa vertente de correspondência a um regime que o acolheu e percebeu a sua humanidade e integridade. Para além de todo o seu legado na academia – como professor, investigador na área da ciência política e direito constitucional, autor de uma vasta obra, e impulsionador do ensino universitário militar – sempre se preocupou com a afirmação de Portugal no mundo e nas relações internacionais.
Mas acima de tudo, o democrata cristão e defensor da doutrina social da Igreja nunca se conformou com a pobreza e a sempre afirmou a necessidade de encontrar um modo para a erradicar. Essa preocupação é apenas mais um legado em que plantou raízes para o futuro. Também aqui teremos todos de continuar a aproveitar o exemplo de Adriano Moreira. É com esse sentimento de intemporalidade que deixo um abraço solidário a toda a sua extraordinária família e escrevo: muito obrigado Prof. Adriano Moreira, um Português exemplar.