Freitas do Amaral garante que demissão não foi motivada por divergências políticas

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Freitas do Amaral vai ser substituído por Luís Amado, actual ministro da Defesa Inácio Rosa/Lusa (arquivo)

Freitas do Amaral garante que o pedido de demissão que apresentou do cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros foi motivado pelo agravamento do seu estado de saúde e não por divergências políticas com o Governo, que diz nunca terem existido.

"Este pedido de demissão não foi motivado por divergências políticas de qualquer espécie – que não existiram nem existem –, mas unicamente por força do agravamento nos últimos meses do estado de saúde do ministro, que sofre de três lesões na coluna vertebral", adianta um comunicado lido esta tarde pelo porta-voz de Freitas do Amaral.

Segundo a nota, a lesão "mais séria e dolorosa é na coluna cervical, e vai ter de ser operada na próxima segunda-feira, dia 3 de Julho", implicando "repouso absoluto durante algumas semanas e proibição de viajar de avião nos próximos meses".

O comunicado adianta que o ministro deverá ser posteriormente operado a uma das outras duas lesões, "a que também se seguirá um período de repouso absoluto de algumas semanas".

Confrontado esta situação, e após conselho médico, Freitas do Amaral conclui não ter "condições físicas que lhe permitam continuar a exercer o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros, que exige uma grande capacidade de trabalho e numerosas deslocações".

A concluir, o ministro demissionário "lamenta ser obrigado a tomar esta decisão", mas garante que "sai com a consciência do dever cumprido" e mantém "toda a sua solidariedade política" com o primeiro-ministro e o Governo.

A demissão de Freitas do Amaral foi conhecida ao início da tarde, num comunicado enviado às redacções pelo gabinete do primeiro-ministro, no qual se adiantava que o chefe da diplomacia portuguesa tinha pedido para abandonar o Governo devido a problemas de saúde.

A sua saída obriga a uma pequena remodelação governamental, já que a chefia da diplomacia será assumida por Luís Amado, que tutelava até agora o Ministério da Defesa. Para o seu lugar José Sócrates escolheu Nuno Severiano Teixeira, que foi ministro da Administração Interna no segundo Governo de António Guterres.

Três décadas de acção política

Fundador do CDS-PP, que liderou entre 1974 e 1982 e novamente de 1988 a 1991, Freitas do Amaral foi candidato à Presidência da República nas eleições de 1986, tendo sido derrotado na segunda volta por Mário Soares.

Afastando-se do partido com a chegada de Manuel Monteiro à presidência, Freitas do Amaral saiu da ribalta política, mas em 1995 foi eleito presidente da Assembleia-Geral da ONU, um cargo que ocupou durante um ano.

Opositor da guerra do Iraque, contrariando a posição assumida pelo Governo PSD/CDS-PP, Freitas do Amaral aproximou-se nos últimos anos da área socialista. Com a vitória do PS nas legislativas de Fevereiro do ano passado, o seu nome foi anunciado por José Sócrates como um trunfo no novo Executivo. Regressava, assim, a um ministério que chefiara no Governo da Aliança Democrática, antes de ser chamado a assumir interinamente o cargo de primeiro-ministro, com a morte de Francisco Sá Carneiro.

O último ano não foi, contudo, fácil para o ex-chefe da diplomacia, contestado pela forma como reagiu à polémica sobre os cartoons do profeta Maomé na imprensa europeia. A oposição acusou-o de não ter condenado a violência gerada contra interesses europeus, optando por criticar a publicação das caricaturas.

Freitas do Amaral voltou a causar polémica quando admitiu a aplicação de sanções militares contra o Irão, depois de esgotadas todas as outras opções para convencer o país a abdicar das suas ambições nucleares.

No entanto, no início de Maio garantiu à Lusa que não se sentia "politicamente morto". "Acho que ainda posso ter alguma coisa a dar ao meu país e enquanto for considerado útil e a saúde aguentar, estou disponível", afirmou então Freitas do Amaral.

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