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Ainda há operários

Ao longo de mais de 20 anos, o fotojornalista Adriano Miranda captou imagens de operários no seu labor diário, em fábricas, minas e oficinas. Os rostos dos operários e os espaços do seu trabalho são pedaços da vida diária que, todos juntos, representam “uma homenagem” a quem produz. Porque os operários ainda existem.

O rosto escurecido pelo trabalho de um mineiro nas Minas do Pejão (1993) Adriano Miranda
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O rosto escurecido pelo trabalho de um mineiro nas Minas do Pejão (1993) Adriano Miranda

Às vezes as coisas acontecem assim. Fotografamos uma fábrica hoje, uma mina amanhã, uma oficina no dia seguinte e não olhamos para essas imagens como um todo. Depois, os anos passam, os rostos desse universo acumulam-se, os espaços onde se movem ganham uma identidade própria, como um único ser com vários tentáculos. E, de repente, olhamos e está tudo ali. O trabalho. Os operários. Essa palavra de que Adriano Miranda diz gostar tanto e preferir mil vezes ao termo que o foi substituindo nos últimos anos: colaboradores. “Está muito na moda falar-se em colaboradores. Há mesmo quem diga que os operários acabaram, que o trabalho é mais qualificado hoje. E é, mas eu não concordo nada que os operários tenham desaparecido. Quando olho para um jovem junto a uma bigorna, um serralheiro a trabalhar em Ovar, é em operários que penso”, diz.

Adriano olhou para as fotografias desses operários, recolhidas ao longo de mais de 20 anos, e viu uma história. Ou várias histórias que, juntas, ganham mais força. São de reportagens que o marcaram, como a do Pejão — “foi o meu foguetão de lançamento e quero ver se mais cedo ou mais tarde transformo esse trabalho num livro”, diz — ou de “imagens muito fortes”, demasiado fortes para serem esquecidas. O mundo do trabalho, o mundo das máquinas domadas por homens e mulheres, de gestos de precisão, do labor que suja as mãos, que nos leva às profundezas da terra, à repetição de movimentos diários, semana após semana, da minúcia de um retoque manual, que faz de cada peça única. Um mundo de espaços apertados ou de instalações amplas, onde tudo é igual ou cada recanto é diferente, com funções bem delineadas, cansativas e mal pagas.

Também este “ensaio” pode vir a tornar-se um projecto mais amplo, admite Adriano. Nestes tempos em que se ouve falar mais em desemprego do que em emprego e em que andamos todos à procura de mais, vale a pena olhar para aqui. “É uma homenagem ao trabalho. Estamos na fase da confiança e sem trabalho não há confiança, não é?”, diz.

Um operário da Viarco  (2007)
Um operário da Viarco (2007) Adriano Miranda
A fábrica têxtil NST Apparel, de capital filipino, abriu em Paredes em 2014, no âmbito dos vistos gold, e com 210 funcionários
A fábrica têxtil NST Apparel, de capital filipino, abriu em Paredes em 2014, no âmbito dos vistos gold, e com 210 funcionários Adriano Miranda
Os mineiros do Pejão, um dos trabalhos que mais marcou o fotojornalista, no início da sua carreira, em 1993
Os mineiros do Pejão, um dos trabalhos que mais marcou o fotojornalista, no início da sua carreira, em 1993 Adriano Miranda
Na fábrica da Vista Alegre, em Ílhavo, o trabalho minucioso de pintura  faz parte do dia a dia (2016)
Na fábrica da Vista Alegre, em Ílhavo, o trabalho minucioso de pintura faz parte do dia a dia (2016) Adriano Miranda
A fábrica de conservas Gondola, em Matosinhos (2012)
A fábrica de conservas Gondola, em Matosinhos (2012) Adriano Miranda
Manifestação de mineiros espanhóis de Tremor de Arriba (2010)
Manifestação de mineiros espanhóis de Tremor de Arriba (2010) Adriano Miranda
Fábrica de collants,Custoitex, em Custóias (2015), Matosinhos
Fábrica de collants,Custoitex, em Custóias (2015), Matosinhos Adriano Miranda
Operárias da Pomar, em Viseu (2014)
Operárias da Pomar, em Viseu (2014) Adriano Miranda
António Romão é serralheiro em Ovar e foi rosto de uma história do PÚBLICO publicada em 2010
António Romão é serralheiro em Ovar e foi rosto de uma história do PÚBLICO publicada em 2010 Adriano Miranda