Rui Moreira dedica primeira Feira do Livro do Porto a Vasco Graça Moura

O certame, organizado pela Câmara do Porto, reúne uma centena de expositores, que estarão abertos até ao dia 21 de Setembro.

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Nelson Garrido

A Feira do Livro do Porto já está à disposição dos amantes dos livros e foram muitos os que, neste sábado, estiveram nos jardins do Palácio de Cristal para espeitar as novidades que o certame tem para mostrar. Mas antes de visitarem a centena de expositores que a Câmara do Porto conseguiu trazer para os jardins do Palácio de Cristal, muitos quiseram associar-se à homenagem simbólica, prestada pelo município a título póstumo, ao portuense Vasco Graça Moura.

A cerimónia começou com a leitura de um poema, escrito pelo punho do homenageado (tirado do livro Variações Metálicas), pelo presidente da Assembleia Municipal do Porto. Miguel Pereira Leite mostrou como “a palavra perdura para além do homem, para além dos tempos… quando é sincera, sentida e profunda”. E, nesse momento, a tília de tronco ondulante que se encontra no acesso directo à entrada da Biblioteca Almeida Garrett foi baptizada com o nome de Vasco Graça Moura.

As palavras do presidente da Câmara do Porto vieram depois. Vestido de escuro, Rui Moreira enalteceu o carácter do escritor, ensaísta e tradutor portuense, a quem o município atribuiu a Medalha de Honra da cidade em Julho passado, pela sua obra, pelo seu percurso singular nos caminhos da cultura, e pela sua intervenção de cidadania. Mas para Rui Moreira falta ainda prestar homenagem à sua palavra, e foi isso que ontem aconteceu.

“Vasco Graça Moura, um portuense como nós, tinha na voz, mas sobretudo na palavra, a sinceridade, o sentimento e a profundidade quanto baste, para merecer que o assinalemos neste local de letras, de palavras e que não queremos esquecido em nenhum dia do ano. É a homenagem dos portuenses, à palavra de um portuense”, proclamou o presidente.

“Simbolicamente, nesta primeira edição da Feira do Livro organizada pela Câmara Municipal do Porto, aqui na Avenida das Tílias, atribuímos a sua palavra a uma tília”, declarou o presidente, empenhado em explicar que a “tília era conhecida pelas civilizações germânicas como sendo uma árvore sagrada, com poderes mágicos que protegiam os guerreiros”.

Estava dado o mote para partilhar com todos aqueles que ali estavam que “Vasco Graça Moura era, à sua maneira, um guerreiro”. “Um sereno guerreiro da palavra. Um temperado que sabia deixar para a subtileza todo o seu poder. Fossem as palavras originais as suas, fossem as palavras dos outros por si feitas em suas e, logo, feitas nossas.”

Satisfeito pelo facto de a Câmara do Porto ter conseguido organizar a Feira do Livro que escolheu, e a que deu o nome de “Liberdade e Futuro”, o independente eleito pelos portuenses anunciava que era sua intenção atribuir a cada tília a palavra de um escritor, e na próxima edição da Feira do Livro, para o ano, será a palavra da escritora Agustina Bessa-Luís a fundar-se numa outra tília. Porque o Porto dá o exemplo do carácter”.

E depois do peso e da importância da palavra, o presidente da câmara quis falar do carácter, que é uma marca do Porto. “Do carácter de quem não se deixa vencer pelo fatalismo ou pelo ditame que vem de um directório ou de um lobby. Do carácter de quem não aceite o joguete ou a arrogância dos supostos insubstituíveis. Mas fá-lo com tempero. Com nível, pelo trabalho, com trabalho e com resultados. Sempre foi assim. Hoje é assim.”

Sem inauguração oficial por opção da câmara, a Feira do Livro do Porto conta com uma centena de pavilhões onde constam algumas das novidades literárias e vai estar patente até ao dia 21 de Setembro.

Portugal sodomizado
Aos jornalistas, Rui Moreira mostrou-se visivelmente satisfeito por o certame ter regressado ao Palácio de Cristal mas, mais importante do que isso – como referiu –, é o facto de os livreiros que aderiram – e foram muitos – irem "pagar cinco vezes menos do valor que pagavam anteriormente”. E essa foi a razão, sublinhou o autarca, porque aderiram num tempo de crise. “O mercado não está fácil para os editores e livreiros.”

Rui Moreira vincou ainda que não quer que a “Feira do Livro seja apenas uma venda de livros”. “Queremos que seja também um festival literário, com animação, com cultura, com a exposição”, disse. Nas palavras do presidente, os portuenses adoram os jardins do Palácio de Cristal e a escolha é perfeita, até porque ali há um outro espaço muito acolhedor que é a Biblioteca Almeida Garrett, onde, aliás, está “uma magnifica exposição”, disse.

A mostra patente na galeria municipal Almeida Garrett a que Rui Moreira se referiu decorre no âmbito da feira e chama-se Outro modo de ler: texto e imagem na edição para a infância. Trata-se de um certame que apresenta ilustrações de livros feitos por alguns dos mais premiados ilustradores portugueses como Afonso Cruz, António Jorge Gonçalves, Cristina Valada, Gémeo Luís, entre outros.

Sucede que na abertura da exposição, na sexta-feira, ocorreu um pequeno incidente. O vereador da Cultura, Paulo Cunha e Silva, mandou retirar uma ilustração que representava Portugal a ser sodomizado pelo FMI. Neste sábado ao PÚBLICO explicou porquê: “Tratava-se de uma exposição de ilustração dedicada à infância e numa exposição de ilustração infantil nem tudo pode estar exposto, é só isso.”

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