Ministro da Agricultura suspende projecto aprovado pelo Governo para a zona de Belém

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Escola Portuguesa de Arte Equestre está actualmente instalada nos jardins do Palácio Nacional de Queluz Adriano Miranda

Construção do picadeiro da Escola Portuguesa de Arte Equestre foi declarada "inexequível". Frente Tejo ia começar a obra, mas não se sabia quanto custaria, nem sequer quem era o dono.

O ministro da Agricultura mandou parar o processo de transferência da Escola Portuguesa de Arte Equestre (EPAE) do Palácio de Queluz para as novas instalações a construir na Calçada da Ajuda, em Belém. Num despacho datado de 24 de Junho, António Serrano considerou que o projecto do Picadeiro de Belém "não é exequível", sendo uma das principais razões que o levaram a demitir o presidente da Fundação Alter Real (FAR), Vítor Barros, na qual a EPAE está integrada desde 2007.

A construção do picadeiro e das instalações da escola estava prestes a iniciar-se, com o envolvimento da sociedade de capitais públicos Frente Tejo - que tem a seu cargo a gestão de um conjunto de intervenções de requalificação da frente ribeirinha de Lisboa -, da Parque Expo e da FAR, sem que fosse claro, segundo o próprio Vítor Barros, quem seria o dono da obra. A mudança da EPAE para Belém é falada há muitos anos, tendo chegado a estar prevista a sua instalação, para efeitos de exibição pública, no antigo Picadeiro Real, onde está sediado o Museu dos Coches. Esta ideia foi abandonada devido à fragilidade das estruturas do edifício.

A opção pelo espaço onde funcionou o antigo Regimento de Cavalaria 7, na Calçada da Ajuda, e onde ainda está o Corpo de Intervenção da PSP foi tomada pelo Conselho de Ministros, em 2008, através da resolução que aprovou as principais obras de requalificação da frente ribeirinha e atribuiu a sua gestão à Frente Tejo. O custo então estimado para o picadeiro foi de 7,2 milhões de euros, mas estudos posteriores e não definitivos apontaram para 12,5 milhões.

O projecto foi entretanto encomendado pela FAR e encontra-se em apreciação na Câmara de Lisboa. No final do mês passado a Frente Tejo estava a preparar-se para iniciar a execução das fundações, logo que a câmara o autorizasse, contando debitar posteriormente os custos à FAR.

Nessa altura, porém, a Inspecção-Geral do Ministério da Agricultura concluiu uma auditoria à FAR que atirou o projecto por água abaixo. Considerando que a fundação - criada pelo Governo para assumir as funções do antigo Serviço Nacional Coudélico - se encontra em graves dificuldade financeira e que o investimento no picadeiro "apresenta grandes incertezas", o inspector-geral, Pimenta Brás, concluiu que ele "só poderia ter alguma viabilidade se não existissem mais custos para a FAR".

No parecer do inspector-geral sobre o relatório final dos auditores faz-se notar que "seria muito verosímil, a prosseguir o projecto tal como está - com elevado grau de incerteza quanto à sua viabilidade financeira -, que a curto/médio prazo tivesse de ser o Orçamento do Estado a solucionar eventuais dificuldades". O documento lembra, aliás, que "no passado já a Parpública (empresa pública que gere as participações empresariais do Estado) teve de ajudar a minorar as dificuldades da FAR através de doação". Foi com base nas conclusões desta auditoria, mas também num estudo do seu gabinete, que o ministro da Agricultura decidiu que o projecto "não é exequível".

Fundação surgiu "quase como um nado-morto"

"Logo à nascença, a situação económico-financeira da FAR era preocupante", a fundação "era quase um nado-morto", lê-se no relatório da auditoria. A insuficiência do capital inicial poderá explicar parte das dificuldades actuais e do passivo, que totaliza 2,7 milhões de euros. Os auditores apontam no entanto falhas à gestão de Vítor Barros, que foi também afastado da presidência da Companhia das Lezírias. A inexistência de um manual de controlo interno, o facto de ainda não estarem fechadas as contas de 2007 e a deficiente comunicação entre a administração e o pessoal são alguns dos problemas referidos numa instituição cuja actividade corrente "não é financeiramente auto-sustentável a curto e médio prazo". O inspector-geral da Agricultura frisa o facto de a FAR ter 44 colaboradores, num total de 101, que "pertencem a prestadores de serviços" e trabalham em áreas fulcrais da fundação, o que poderá representar uma violação do Código do Trabalho.

350.000 euros

"Apesar de todas as indefinições do projecto e da sua situação financeira, a FAR já assumiu responsabilidades bancárias no montante de 350.000 euros para aquisição de três imóveis a integrar no projecto" do picadeiro, dizem os auditores do Ministério da Agricultura. Num anexo ao relatório diz-se também que os honorários do arquitecto contratado pela FAR, Arsénio Cordeiro, rondam 400.000 euros, parte dos quais em regime pro bono. "Actualmente ninguém sabe, com rigor, a quanto poderão ascender os custos do picadeiro", dizem os inspectores.

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