Falta de apoio financeiro compromete Exploratório de Coimbra

A direcção do centro de Ciência Viva de Coimbra, que pode vir a ser destituída no próximo dia 21, diz-se vítima de estrangulamento financeiro e reclama "explicações sobre os verdadeiros interesses que presidem" à sua substituição.

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Nelson Garrido

Victor Gil, fundador e director do Exploratório de Coimbra, acusou na semana passada a Agência Nacional para a Cultura Cientifica e Tecnológica (ANCCT) de estar “a estrangular financeiramente aquela unidade com o objectivo de provocar a substituição dos actuais dirigentes”. Rosalia Vargas, responsável pela agência nacional que está sob a tutela do Ministério da Educação e Ciência (MEC), nega que assim seja, “mas a assembleia geral em que poderá vir a ser votada a destituição da direcção já está marcada para dia 21”, sublinha Victor Gil, que pergunta: “Será que depois já aparece o dinheiro?”

A situação “angustiante”, de “imensa dificuldade” e de “estrangulamento financeiro” do Exploratório Infante D. Henrique foi abordada no executivo municipal de Coimbra por José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda, na qualidade de vereador eleito pelo Movimento Cidadãos por Coimbra. Depois de ter visitado as actuais instalações do Exploratório e um “segundo edifício daquele centro de ciência absolutamente equipado, que se encontra fechado, sem licença de utilização, e como que congelado, devido ao estrangulamento financeiro de que a instituição está a ser alvo”, o vereador defendeu a participação da autarquia na resolução do problema.

Foi o início do levantar de um véu sobre o processo que envolve o Exploratório, que nasceu em 1991 como Centro de Iniciação Científica, dependente da Reitoria da Universidade de Coimbra, e se afirmou enquanto associação, constituída em 1995, da qual fazem parte, actualmente, várias entidades, entre as quais a Universidade e a Câmara Municipal de Coimbra. A partir de 1998 passou a fazer parte da rede de Centros Ciência Viva e desde esse ano, frisa Victor Gil, foi apoiado com mais de 2,2 milhões de euros pela ANCCT.

“Em 2013 a assembleia-geral aprovou o orçamento previsional que, à semelhança dos anteriores, estava dependente de subsídios à exploração e fazia referência às fontes que iriam ser procuradas: neste caso, a ANCCT e a autarquia. Mas, pela primeira vez desde sempre, sem aviso ou explicação, a ANCCT – a entidade responsável pela aplicação das verbas do Orçamento de Estado para a promoção da cultura científica e tecnológica – não atribuiu qualquer subsídio e fez saber à direcção do Exploratório e ao Reitor da Universidade de Coimbra que qualquer apoio financeiro dependia da mudança de direcção e da alteração de estatutos”, denunciou Victor Gil, em declarações ao PÚBLICO.

Parte daquela informação foi transmitida pela direcção do Exploratório num documento enviado na semana passada a todos os conselheiros, no qual os dirigentes do Exploratório – todos eles cientistas e fundadores do centro de divulgação científica – fazem saber que estão disponíveis para colocar os respectivos lugares à disposição imediatamente após a atribuição do subsídio da ANCCT, “que permitirá cumprir o orçamentado e planeado  no final de 2013, aprovar as contas de 2014 e votar o orçamento e plano de actividades de 2015”.

“Depois de mais de 20 anos a dirigir este centro, com avaliações sempre positivas do trabalho desenvolvido, não podemos simplesmente demitirmo-nos para que o dinheiro venha quando a situação foi gerada, precisamente, pela falta desse dinheiro. Não podemos permitir que a nossa imagem fique tão injustamente manchada”, afirmou, em declarações ao PÚBLICO, Victor Gil, que diz aguardar que “na assembleia geral alguém explique o que se está a passar e revele que interesses presidem a todo este processo”.

Contactada pelo PÚBLICO, Rosalia Vargas, da ANCCT, negou ter colocado como condição para o financiamento a destituição da actual direcção, pela qual disse ter “a maior estima e respeito”. Numa nota escrita, sustenta que “a proposta orçamental do Exploratório para 2014 apresentava um défice, decorrente da falta de garantia das receitas nela inscritas, impossibilitando desta forma, por regra de boa gestão, a atribuição de subsídio por parte da Ciência Viva”; constata ainda que “o relatório de gestão e contas de 2014, bem como o plano de actividades e correspondente orçamento para 2015, não foi aprovado na Assembleia Geral, aguardando-se uma tomada de decisão definitiva por parte dos associados”.

Vítor Gil sublinhou que a situação citada por Rosália Vargas “resulta de um círculo vicioso provocado pela própria ANCCT”. Contactado pelo PÚBLICO através do gabinete de imprensa, o reitor da Universidade de Coimbra, a quem foi pedido que confirmasse se a agência tenha feito depender o financiamento da mudança da direcção do exploratório, fez saber que não se pronunciará sobre qualquer assunto relacionado com aquele centro de divulgação científica. O presidente da Câmara Municipal de Coimbra, também através do gabinete de imprensa, respondeu às questões do PÚBLICO frisando que sempre apoiou o Exploratório e remetendo mais declarações para depois da reunião da assembleia geral do próximo dia 21. O MEC, ao qual Victor Gil denunciou a alegada falta de "transparência na gestão das verbas para divulgação científica", remeteu para a ANCCT.

Da ordem de trabalhos da assembleia geral, convocada pelo reitor, consta a decisão sobre a continuidade da direcção e a eventual eleição de novos órgãos dirigentes.

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