A Fundação Bracara Augusta, responsável pela programação da Capital Europeia da Juventude em 2012, acumulou dívidas de mais de 300 mil euros nos últimos dois anos. Os números são do Relatório e Contas daquele organismo relativos ao ano passado e vão obrigar a autarquia a injectar dinheiro na instituição para cumprir os compromissos com fornecedores. O anúncio foi feito pelo presidente da câmara de Braga, Ricardo Rio, à margem da reunião do executivo municipal desta segunda-feira. Mas a divulgação do documento é vista pelo PS como manobra de diversão para esconder uma adjudicação polémica feita por um vereador dos CDS.

De acordo com o relatório da empresa que faz a contabilidade da FBA, a instituição tinha, no final de 2013, dívidas a fornecedores de 450 mil euros e um passivo contabilístico de 667 mil euros. No entanto, a entidade que é participada pela Câmara de Braga tem ainda cerca de 300 mil euros a receber relativos a fundos comunitários e a verbas acordadas com organismos do Estado. Contas feitas, os documentos mostram resultados negativos de 333 mil euros respeitantes apenas aos últimos dois anos.

“Vamos ter que juntar os cacos que foram deixados e assumir as responsabilidades assumidas perante terceiros”, prometeu Ricardo Rio, garantindo que a autarquia vai injectar todas as verbas em falta. A câmara continua também à espera dos resultados de uma auditoria pedida a todas as entidades municipais e cujos resultados são prometidos até ao final do mês para perceber se há outras dívidas nas contas da fundação.

O vereador do PS e novo líder da concelhia do partido, Hugo Pires, foi até às últimas eleições o presidente da FBA e classifica a apresentação destes resultados como uma “clara manipulação das contas” com o objectivo de o atingir pessoalmente. O autarca socialista acusa a maioria PSD-CDS de “má-fé” por ter apresentado as contas sem ter dado conhecimento prévio à administração cessante, como estaria combinado, e escusa-se a comentar os números por não conhecer o relatório. Pires lembra, porém, que estes resultados “não batem certo com nada” que conheça.

Para Hugo Pires, o anúncio das contas da FBA foi uma “tentativa de esconder” uma “proposta grave” que foi votada na reunião de câmara desta segunda-feira. A autarquia atribuiu um subsídio de 7500 euros à junta de freguesia de Adaúfe para equipar a praia fluvial daquela localidade com um WC para deficientes e mesas para a zona de lazer a fim de manter a classificação com bandeira azul. O apoio era acompanhado por um dossiê em que era apontada a empresa Bricantel como a melhor proposta para aquisição dos equipamentos em causa.

“A câmara entrega um subsídio, dizendo desde logo qual é a empresa a quem deve ser comprado o material”, critica Pires, apontando o dedo ao vereador do Ambiente, Altino Bessa, eleito do CDS, partido pelo qual é também deputado na Assembleia da República com mandato suspenso. “Foi ele próprio a fazer a consulta e a dizer qual a empresa que vai ser contratada”, acusa o socialista, citando uma comunicação interna em que um chefe de divisão da autarquia identifica o vereador como o responsável pela recolha dos orçamentos aos fornecedores do material em causa.

Ricardo Rio desvaloriza a situação e diz que a câmara estava a tratar da aquisição do material quando percebeu que a praia fluvial era formalmente propriedade da junta de freguesia, transformando a aquisição de serviços num subsídio. O trabalho já feito de recolha das propostas para a aquisição do material são anexados para o caso de a autarquia local querer aproveitar o trabalho já feito, mas esta “não está de todo obrigada” a fazê-lo, assegura o presidente da Câmara.