Uma selecção genuinamente nacional com portugueses de norte a sul e além-mar

Distrito do Porto, com Vila do Conde e Póvoa de Varzim à cabeça, será o distrito mais representado entre os 23 convocados de Paulo Bento. Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola e Brasil estão igualmente representados numa espécie de “united colors of Portugal”.

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Ray Stubblebine/Reuters

Do Algarve a Trás-os-Montes, da Madeira ao Brasil, de Cabo Verde a Angola, passando pela Guiné-Bissau. Os 23 jogadores que representam a selecção portuguesa têm as mais díspares origens geográficas, mas todos com o português como língua mãe. No aeroporto de Newark, nos EUA, onde a equipa chegou na passada segunda-feira para o estágio que antecede o Mundial do Brasil, Cristiano Ronaldo estava naturalmente no topo das preferências dos imigrantes que receberam a selecção, mas logo de seguida, muitos procuravam o “jogador da terra”, com quem mais se sentissem identificados. E neste aspecto, os vizinhos poveiros e vilacondenses foram uns privilegiados, com quatro patrícios na comitiva.

Fábio Coentrão e Hélder Postiga, Bruno Alves e Luís Neto. Os dois primeiros são de Vila do Conde, os segundos da Póvoa de Varzim. Duas localidades vizinhas, ligadas umbilicalmente, mas separadas por uma rivalidade histórica. Juntas, formam o espaço geográfico que mais jogadores fornece à selecção. Contribuíram decisivamente para que o distrito do Porto fosse o mais representado nas escolhas de Paulo Bento, com um total de seis jogadores, ainda que apenas um, Raúl Meireles, tenha nascido propriamente na Invicta. O sexto é Ricardo Costa, de Vila Nova de Gaia.

Logo atrás do distrito portuense, segue o lisboeta, a curta distância, com cinco jogadores entre os 23. João Pereira e Rúben Amorim nasceram na capital, enquanto Beto e André Almeida são oriundos de Loures e Rafa de Vila Franca de Xira.

O distrito de Coimbra surge no último lugar do pódio, com Miguel Veloso a ser proveniente da “cidade dos estudantes” e Hugo Almeida da Figueira da Foz. Seguem-se empates técnicos no quarto lugar. De Regueira de Pontes, no distrito de Leiria, surge o titular da baliza nacional, Rui Patrício; de Almada, no distrito de Setúbal, nasceu o portista Varela, enquanto Guimarães, no distrito de Braga, foi o berço de Vieirinha, o único cartaz da região minhota.

O Algarve tem no portimonense João Moutinho a sua bandeira no Brasil e Trás-os-Montes contará com Eduardo, nascido em Mirandela, distrito de Bragança. O guarda-redes suplente não terá grandes oportunidades de jogar neste Mundial, mas carregará a responsabilidade de ser o único jogador a representar o interior de Portugal na competição. O funchalense Ronaldo colocará igualmente a Madeira no mapa da competição.

Os grandes ausentes desta lista serão a região do Alentejo (ainda que Varela tenha nascido no distrito de Setúbal, que está inserido na Estremadura e Baixo Alentejo), as Beiras interiores e o Ribatejo, para além da região autónoma dos Açores, órfã do retirado Pauleta.

Mas a equipa portuguesa não está circunscrita ao território nacional e regiões autónomas. O mundo lusófono está igualmente retratado. Nani, nascido na Cidade da Praia, irá mobilizar os adeptos de Cabo Verde, o mesmo acontecendo com os angolanos em redor do sportinguista William Carvalho, originário de Luanda. Já o avançado bracarense Éder carrega a bandeira da Guiné-Bissau e da capital do país. E não faltará no Brasil, um homem da terra: Pepe, o indiscutível defesa central do Real Madrid e da selecção de Paulo Bento, que nasceu em Maceió, no nordestino Estado de Alagoas.

Muro de Berlim persiste
Se a equipa portuguesa surge como um conjunto verdadeiramente nacional e lusófono em relação à origem dos seus atletas, o mesmo não acontece com outras selecções, como, por exemplo, a Alemanha, primeiro adversário de Portugal na fase de grupos do Mundial. Aqui, o extinto muro de Berlim persiste ainda hoje nas fronteiras do futebol.

Dos 23 convocados pelo treinador Joachim Löw, apenas um, Toni Kroos, nasceu na antiga RDA. Em comparação, integram o plantel germânico dois polacos naturalizados: Miroslav Klose e Lukas Podolski. Todos os restantes são provenientes do território que pertencia à RFA antes da reunificação do país, a 3 de Outubro de 1990.

Na selecção brasileira, é igualmente marcante o desequilíbrio regional na origem dos jogadores convocados por Luiz Felipe Scolari. A esmagadora maioria dos atletas nasceu nos estados do sudeste e sul do país. No total são 19 oriundos de seis estados: Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.

São Paulo é o mais representado, com sete convocados, seguindo-se a alguma distância, o Estado do Rio de Janeiro, com quatro jogadores. Fora desta zona geográfica, surgem apenas quatro futebolistas, todos originários do nordeste do país: dois da Bahia, um de Recife e outro do Paraíba (o ex-portista Hulk). Os restante 17 que compõem a nação brasileira estados (excluindo o Distrito Federal, onde se localiza a capital Brasília) não foram contemplados.

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