“Se eu não mostrar trabalho, o Jorge Mendes também não vai conseguir vender-me”

O jovem guarda-redes português brilhou no Europeu sub-21 mas ainda não conquistou o seu espaço no Marítimo. Sonha jogar em Inglaterra ou Espanha e diz sobre o seu empresário: “Trabalho com o melhor”

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José Sá num jogo da selecção sub-21 Carl Recine/Reuters

Tem uma imagem inconfundível e o próprio admite que já não se imagina sem a barba, mas também diz que “algum dia” vai ter de a cortar. José Sá começou no futebol a lateral direito, mas seria na baliza que viria a fixar-se. Aos 22 anos, o guarda-redes reclama mais oportunidades para os jovens portugueses, que diz terem qualidade. Foi um dos destaques da selecção portuguesa no Europeu sub-21, que Portugal perdeu de forma traumática, nos penáltis, para a Suécia. Quatro meses depois da final, diz que já só guarda as boas recordações.

Já deu para digerir a derrota na final do Europeu sub-21?
Já. Já deu. Uma pessoa habitua-se. Claro que as primeiras duas ou três semanas depois da final foram complicadas. Mas agora estou tranquilo. Claro que ainda me lembro, que recordo, mas só as coisas boas.

Portugal era super-favorito, por causa do percurso que fez.
Sim, e mesmo nós tínhamos noção disso e tínhamos consciência das coisas. Sabíamos que éramos favoritos à vitória.

Via-se que a equipa era quase como uma família.
Sim, ainda hoje. Nós ainda hoje temos um grupo no telemóvel através do qual falamos muitas vezes. Acho que a união que o grupo tinha foi o segredo do nosso trajecto. Não só dos que estavam lá, mas sim de todos os que participaram na qualificação. Mesmo os que ficaram de fora estavam connosco. Era como se estivéssemos lá todos.

Conta ir aos Jogos Olímpicos?
Vou trabalhar para isso. Se vou ser chamado ou não, não sei. Mas que vou trabalhar para ser chamado, vou.

Ficou surpreendido por não ser titular no Marítimo, tendo em conta as suas exibições no Europeu sub-21?
Fiquei triste, claro que fiquei. Eu quero é agarrar a titularidade. A baliza está bem entregue, porque tanto eu, como o Salin ou o Wellington somos os três bons guarda-redes. Mas claro que fiquei triste por não ser eu o titular. Mas não é por isso que vou deixar de trabalhar e deixar de lutar por uma oportunidade.

Vê perspectivas de chegar à selecção principal?
Vou trabalhar para isso. Mas para isso preciso de jogar, preciso de mostrar trabalho.

Porque há jogadores que se perdem na passagem das selecções jovens para a principal?
É normal, não podem subir os 23 jogadores à selecção A. Só podem subir alguns.

Mas é por falta de oportunidades?
Agora os clubes portugueses estão a apostar mais nos jovens, já tenho notado isso. Mesmo na selecção principal, têm sido chamados mais jovens. Acho isso óptimo, tanto para mim como para os meus colegas.

Menos de metade dos clubes da I Liga tem um português a titular na baliza. Porque é que isto é assim?
Não sei. Não sou eu que mando. Não sei o que vai na cabeça dos treinadores. Por mim, eu estava a jogar. Os jovens portugueses têm valor, falta é apostar mais neles.

É mais difícil para um treinador apostar num jovem para guarda-redes do que para outra posição?
Ultimamente isso tem mudado, agora vê-se mais guarda-redes jovens a assumir as balizas. Mas o que vai na cabeça dos treinadores é que querem um guarda-redes experiente e que transmita segurança. Muitos treinadores procuram experiência para a baliza. São opções.

Mas a maturidade demora mais a chegar num guarda-redes?
Não! Há alguns exemplos. O Vítor Baía estreou-se aos 18 anos. O Rui Patrício também se estreou cedo. Eu estreei-me com 20 anos na I Liga. Podem ser excepções, mas é uma realidade. O Oblak é um óptimo guarda-redes e vê-se a maturidade que ele já tem. E muitos mais. Cada jogador tem o seu estilo próprio e a sua mentalidade. O que quer dizer maturidade e experiência? É só dos 30 anos para cima? Não concordo com isso.

A posição do guarda-redes é ingrata. Se há um erro, toda a gente repara nele.
Eu fiz os jogos que fiz no Europeu sub-21. Correram muito bem. Mas se eu, na final contra a Suécia, deixasse entrar um “frango” e perdêssemos o Europeu, a culpa era minha. As coisas são mesmo assim.

O José Sá até começou a jogar como lateral-direito, não foi?
Sim, eu costumava jogar na frente. Mas foi há tantos anos que já nem me lembro. Entretanto, estava eu nos infantis, faltava o guarda-redes e o meu treinador pediu-me para eu ir para a baliza. Lá fui. E correu bem. Fui com 17 anos para o Benfica, era júnior de primeiro ano. Isso já é tarde, normalmente os clubes vão buscar jogadores aos infantis, iniciados ou juvenis. Mas mais vale tarde do que nunca. E agora estou onde estou hoje.

É bom para os jovens guarda-redes portugueses haver dois campeões do mundo, Júlio César e Iker Casillas, a actuar na I Liga?
Sim, é sempre bom. Ainda mais jogar contra eles. Admiro-os muito aos dois. Sempre gostei do Casillas e já tive o prazer de estar no mesmo campo do que ele. Não frente-a-frente, porque eu estava no banco de suplentes, mas para qualquer guarda-redes é um orgulho enorme. É uma oportunidade para aprender.

Quais são os seus ídolos no futebol?
Manuel Neuer. Admiro-o muito. É um guarda-redes muito completo.

Qual foi o avançado mais difícil que já teve de enfrentar?
Essa pergunta é difícil... Para mim todos os adversários são difíceis. Não há um que eu diga que seja melhor. Encaro os avançados e o resto da equipa como jogadores todos iguais e todos difíceis de enfrentar. Não vou para nenhum jogo a pensar que vai ser fácil, porque quando se pensa assim a coisa corre mal. E eu nunca penso assim.

E qual foi o treinador mais influente no seu percurso?
Houve um treinador de guarda-redes que me marcou. Foi o Miguel Miranda, no Benfica. Gostei muito de trabalhar com ele e aprendi muito. Durante uns meses trabalhávamos de manhã e de tarde. Ele tinha-me dito que precisava de trabalhar para evoluir. Disse-me: “Daqui a quatro meses estás na selecção”. Era o meu sonho. E daí a quatro meses fui chamado pela primeira vez à selecção sub-19, penso eu. Para um estágio, claro. Mas o que é certo é que fui chamado. Estava com um pé lá dentro.

Disse que veio para o Benfica já tarde. Como encarou essa mudança?
Ir para Lisboa foi complicado. Foi a primeira vez que saí de casa dos meus pais. Custou, como é óbvio. Mas encontrei um grupo muito bom, estávamos lá no centro de estágios e havia mais gente lá do norte, que me ajudou. Tornámo-nos uma família.

Como vê o nível do campeonato português? É competitivo?
Sim, é competitivo. Mas claro que não é o meu campeonato de sonho.

Qual é?
O inglês e o espanhol. Mas o português também é um bom campeonato.

O Jorge Mendes é seu empresário há muito tempo?
Desde que fui para o Benfica.

E como é fazer parte da carteira do empresário mais influente do mundo?
Trabalho com o melhor. Está tudo nas mãos dele. Sem dúvida que abre algumas portas, mas se eu não mostrar trabalho ele também não vai conseguir vender-me.

Consegue imaginar-se sem a barba?
Sinceramente, não. Já há dois anos que a tenho. Só deixo a barba assim porque é ruiva, é diferente. Se fosse preta eu cortava-a. Assim marco uma diferença. Mas algum dia vai ter de ser... Se andar sempre igual não tem piada. Mas não sei quando será o dia.

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