Rui Fonte não defronta o Benfica para sua própria protecção

"Encarnados" jogam neste sábado no Restelo o Belenenses. Jesus admite poupar Jonas e Gaitán.

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Fonte teve uma rara oportunidade na equipa principal do Benfica frente ao Arouca Nuno Ferreira Santos

A polémica aconteceu antes do jogo da primeira volta, com os casos de Deyverson e de Miguel Rosa, e regressa para do empate do segundo turno. A questão dos jogadores emprestados voltou a estar em discussão porque Belenenses e Benfica se encontram hoje no Estádio do Restelo, em jogo a contar para a 29.ª jornada da liga portuguesa, e Rui Fonte, jogador emprestado pelos “encarnados” aos “azuis”, não vai jogar. Jorge Simão, técnico da formação do Restelo, diz que é para proteger o avançado e que “não faz sentido ele jogar contra quem lhe paga o ordenado”.

Rui Fonte chegou ao Restelo no mercado de Inverno, depois de uma primeira metade da época no Benfica B, em que apontou 17 golos, uma produção que não tem conseguido igualar ao serviço do Belenenses, tendo marcado apenas um golo, curiosamente frente ao Sporting, equipa onde fez boa parte da sua formação. Jorge Simão, que substituiu Lito Vidigal há três jornadas, diz que não há qualquer acordo com o Benfica para a não utilização do jogador na partida de hoje e que é tudo em favor da “verdade desportiva”.

“Rui Fonte é jogador do Benfica, tem mais 3 anos de contrato com o Benfica, o Benfica paga parte substancial do salário. Não faz sentido, aos meus olhos, que um jogador jogue frente à sua entidade patronal. É uma questão de verdade desportiva. Se ele jogasse, se ele fizesse um golo ao Benfica, como seria a vida dele nos três anos a seguir? E se fosse ao contrário? É uma situação para proteger o jogador tendo em conta o vazio legislativo presente”, justificou o técnico do Belenenses para não ter incluído Rui Fonte na convocatória para o jogo de hoje.

Do lado do Benfica, Jorge Jesus tem um discurso semelhante, reiterando que os jogadores emprestados não deviam poder jogar contra os seus clubes de origem. "Qualquer jogador emprestado não devia jogar com a equipa mãe e devia haver uma lei nesse sentido. Se nesse jogo marca um ou dois golos à sua equipa, como é o seu regresso ao clube e como é que os adeptos olham? Para defender o jogador, os jogadores emprestados não devem jogar”, observou o técnico “encarnado”.

Repete-se, assim, a polémica da 12.ª jornada, em que o Belenenses não utilizou aqueles que eram, na altura, os melhores marcadores da equipa, Deyverson e Miguel Rosa. Lito Vidigal não explicou os motivos para a não utilização dos dois jogadores e, só depois do jogo da Luz (que o Benfica venceu por 3-0), é que Rui Pedro Soares, líder da SAD belenense, disse que foi uma decisão sua, apesar de serem os dois exclusivamente jogadores do Belenenses, tendo o Benfica “uma cláusula de recompra” – Miguel Rosa continua no plantel, mas está lesionado, enquanto Deyverson transferiu-se para o Colónia, da Bundesliga.

A excepção inglesa

De acordo com os regulamentos da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), não há nada que possa impedir os jogadores emprestados de actuarem contra os seus clubes de origem. “São nulas e de nenhum efeito quaisquer cláusulas, ainda que estabelecidas ou acordadas entre as partes intervenientes, e nomeadamente entre clube cedente e clube cessionário, que, por qualquer forma, visem limitar, condicionar ou onerar a livre utilização do jogador em causa”, diz o artigo 52.º do regulamento de competições da LPFP.

A própria FIFA, na circular 1464 que introduz novas regras quanto à partilha de passes de jogadores, também se refere à questão dos empréstimos. “Nenhum clube poderá firmar um contrato em que outro clube/clubes, ou vice-versa, ou uma terceira parte possa assumir uma posição de influência em assuntos laborais, de transferências, nas suas políticas ou na actuação das suas equipas”, diz o novo artigo 18.º do regulamento de transferências.

Em Espanha, não há quaisquer impedimentos, mas os clubes podem utilizar as chamadas “cláusulas de medo” nos contratos de cedência de jogadores a equipas do mesmo escalão. O Real Madrid, por exemplo, usa estas cláusulas com jogadores emprestados a outros clubes da liga espanhola – o russo Cheryshev, cedido ao Villarreal, não defrontou os “merengues” -, enquanto o Barcelona dá a liberdade aos clubes de utilizarem, se assim o entenderem, os jogadores recebidos – tanto Denis Suárez como Deulofeu, cedidos ao Sevilha, defrontaram os catalães.

Os regulamentos da Premier League, por seu lado, impedem que o jogador emprestado não possa jogar contra o seu clube de origem. Se esse empréstimo se transformar em transferência definitiva durante o período inicialmente acordado, o regulamento permite a possibilidade (caso os clubes estejam de acordo) que o jogador em causa não possa actuar frente ao seu ex-clube.

À margem desta polémica, o Benfica defende neste sábado a sua vantagem de três pontos em relação ao FC Porto, que defronta no mesmo dia a Académica. A uma semana do clássico na Luz, Jorge Jesus admite poupar no jogo do Restelo dois dos seus jogadores mais influentes, Gaitán e Jonas, sendo que ambos estão convocados para o jogo, mas sem garantia de serem utilizados: "O Nico e o Jonas durante a semana tiveram alguns problemas de fadiga muscular, não trabalharam com o grupo. Hoje [ontem] já fizeram metade do treino e vão estar convocados. Até amanhã [hoje] vou decidir se os posso lançar no jogo."

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