O surf e a prevenção de riscos

O surf é um desporto que, devido à sua especificidade, está sujeito a lacerações e traumatismos de diversa ordem.

O surf é um desporto que, devido à sua especificidade, está sujeito a lacerações e traumatismos de diversa ordem. Este tema foi já bem estudado pela Universidade da Califórnia. Em Portugal, mais recentemente, foi elaborado um excelente trabalho por Ana Gama, na sua tese de mestrado, sobre “Prevenção e Gestão do Risco de Lesões Desportivas no Surf”.

Entre as diversas agressões desde entorses a abrasões, e outras destacam-se as lacerações, como a lesão mais frequente em Portugal, representando 23,3% de todas as lesões agudas.

Além das manobras, a colisão com equipamentos ou com outros praticantes são as causas mais frequentes de acidentes, com 38,5% de incidência. 63,5% dos acidentes ocorrem devido ao local de prática (Gama, A.).

Nos últimos anos na minha prática clínica observei vários jovens praticantes de surf, de ambos os sexos, com lesões múltiplas, mas devido à minha área de intervenção foquei-me mais nas lesões venosas, desde flebites traumáticas e lacerações venosas a hematomas significantes por rotura muscular. Observei ainda algumas lesões de lacerações por corais em praticantes que estiveram em outras paragens, nomeadamente nas Maldivas. Só para ter uma ideia, um estudo de 2007 (Nathanson) demonstrou que 55% das lesões agudas resultam do impacto com a própria prancha e 11% de impactos com a prancha de outros praticantes, 18% devido ao tipo de fundo (rocha, coral). 40% das lesões são provocadas pelos “fins” das pranchas e 48% pelo “nose” da prancha.

No Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT) considera-se o turismo náutico, nomeadamente o surf e o kit surf, como áreas de grande potencial de desenvolvimento. Ora, baseado nestes achados clínicos que observei, mais especificamente sobre a doença venosa, sugiro que os praticantes que têm esta patologia sejam avaliados preventivamente. A doença venosa tem tendência hereditária e parece transmitida através de um gene autossómico. A incidência em Portugal e na Europa é grande podendo atingir 50% da população feminina. No sexo masculino é menor, podendo andar entre os 10 a 20%.

Sendo as varizes dilatações patológicas das veias, facilmente se compreende que um corte destas veias sangre abundantemente podendo causar lesões complicadas como flebites, hematomas, tromboflebites. Se estes cortes ocorrem com corais, por exemplo, que são animais vivos grandemente infectantes, podem surgir infecções graves que necessitam de tratamento antibiótico específico dado que os microrganismos responsáveis pela infecção são os estafilococos, os estreptococos e o vibrião, entre outros.

Estamos pois a falar de um problema que pela sua potencial gravidade pode deixar lesões permanentes.

Sendo certo que os surfistas treinados conhecem estes perigos, os praticantes iniciados devem observar cuidados redobrados e saber como proceder.

Em Portugal, uma consulta com um especialista para avaliar a situação é fundamental. Algumas vezes estão indicados protectores especiais de uso fácil. Cremes ou outros medicamentos podem ajudar e em alguns casos mais severos cirurgias ou laser. Uma vez tratados, os praticantes podem “surfar” à vontade.

Quando sofrem lacerações, os praticantes devem ser observados rapidamente recorrendo ao médico ou ao serviço de urgência e quando se deslocam para outras paragens devem ir prevenidos com um “kit” para tratamento que pode envolver antibióticos e outros produtos.

Das conclusões do estudo de Ana Gama ressalta ainda que, sendo 53% dos praticantes pertencentes a clubes, escolas e associações de surf, estas poderão ser as estruturas indicadas para passar a mensagem e fazer o ensino.

Outros tipos de problemas relacionados com estas modalidades poderão ser analisados, mas isso fica para outra onda. Surf safely… boas ondas!

Cirurgião Cardiovascular

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