Mundial ou festinha de infantário?

Crónica "Passe de Letra", outra forma de olhar para o Mundial de futebol.

O que senti foi vergonha. Aquilo foi tão mau que uma hora após o encerramento já circulavam pela Internet memes e piadas. Depois de todas as polémicas e confusões que ensombraram o arranque do Mundial, não dava para ter preparado pelo menos uma apresentação com a beleza e a energia a que os Carnavais nos habituaram? Caramba, era só dar aos carnavalescos um terço do orçamento entregue à belga Daphne Cortez que eles davam conta do recado. Como assim a Jennifer Lopez e companhia a cantar num playback sem sincronia sobre uma bola transformada em casca de banana? Eu não estou nem a comentar o facto de a plataforma elevatória não ter funcionado (isso acontece), refiro-me mesmo ao mau gosto, ao repisar de um sem-número de estereótipos que não fazem justiça à criatividade e diversidade do Brasil. Índios e baianas? Não havia nada menos óbvio para representar o país?

Havia. Um bom exemplo até estava em campo mas quase ninguém viu : uma tecnologia criada pelo neurocientista Miguel Nicolelis permitiu a um paraplégico dar o pontapé de saída do Mundial. Tudo graças a um exoesqueleto (ou seja, um esqueleto externo), uma estrutura metálica que recebe as “ordens” do cérebro do paciente e as transforma nos movimentos desejados. Vocês leram bem: Juliano Pinto, 29 anos, paralisado da cintura para baixo, levantou-se da cadeira de rodas e chutou uma bola em pleno estádio. Passou despercebido e até se entende o porquê: é muito difícil competir com pessoas vestidas de vegetais coloridos.  

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