Desconhecidos do Tour: Ji Cheng, entre o golpe de marketing perfeito e a globalização

O Tour tem pela primeira vez um chinês entre os seus participantes.

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Ji Cheng, o primeiro chinês a correr num Tour ERIC FEFERBERG/AFP

Ler notícias sobre a sua presença na história do ciclismo deve ser algo quase banal para Ji Cheng. A sua epopeia particular no pelotão começou no quente Agosto de 2012. A meio do Verão sufocante, o telefonema chegou: estava convocado para a Volta à Espanha. A felicidade, partilhada com familiares, amigos, colegas, cedo deu lugar a algo maior. Os pedidos de entrevistas sucederam-se e o feito deixou de ser do seu universo particular e tornou-se colectivo. Ji Cheng era o primeiro chinês a alinhar numa grande Volta.

Jogada mediática da discreta Argos-Shimano ou recompensa pelo talento? O resultado não convenceu (foi 175.º), mas não fez a equipa deixar de acreditar. Meses depois estava no Giro – primeiro chinês na “corsa rosa”, claro está. Hoje, está no Tour. Indiferente ao burburinho gerado à sua volta, Cheng defende-se como pode das especulações que sugerem que a presença de um chinês no pelotão internacional se deve a um acordo comercial entre a União Ciclista Internacional e as autoridades locais.

“Os meus pais iam de bicicleta para o trabalho”, recordava na altura em que estreou na Vuelta. O encanto de Cheng pela bicicleta tinha nascido dez anos antes, quando, depois de frequentar uma escola de desporto, trocou a corrida pelo ciclismo. A falta de equipas profissionais na China e o desejo de mostrar que um chinês também pode ser competitivo levaram-no a tentar a sorte na Europa.

Profissional desde 2006, encontrou na Argos Shimano, hoje Giant-Shimano, um porto seguro para a sua aventura. “Quando ele chegou, não sabia muito sobre o estilo europeu de corrida”, pode ler-se na página da Shimano. Com o apoio da equipa e o acompanhamento, em treino e corrida, dos colegas, o ciclista de 26 anos aprendeu tudo o que necessitava para ser um corredor profissional.

Os anos e a experiência levaram-no a progredir. “O ciclismo ajudou-me a confiar em mim”, assegura. Sem resultados desportivos de nomeada, Cheng é, ainda assim, uma peça indispensável na estratégia da sua formação, que conta com o jovem para a preparação dos sprints de Marcel Kittel. Mas, mais uma vez, a sua escolha não estará isenta de polémica, a julgar pelas palavras do director desportivo Rudi Kemna. “Ter o Cheng na equipa como o primeiro chinês a correr o Tour será enorme para ele e para o seu país. Estamos ansiosos por ver o impacto disto na globalização do ciclismo”.

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