Em terra de bom clima, será sol de pouca dura?

Kevin Prince Boateng e Marco Livaja juntaram-se a Jonathan Viera e El Zhar, para levar o Las Palmas ao estrelato, no futebol espanhol.

Foto
DR

A Unión Deportiva Las Palmas é líder do campeonato espanhol. Há quem diga que será um estrelato efémero e há quem já fale de um “Leicester espanhol”. Seja, ou não, sol de pouca dura, o facto é que na terra do “melhor clima do mundo” – como apontam alguns estudos –, o sol tem iluminado a equipa das Ilhas Canárias e os resultados estão à vista: dois jogos, duas vitórias, nove golos marcados e liderança do campeonato. Há 38 anos que este clube não estava no topo da classificação.

Alguns adeptos querem ver no humilde emblema das Canárias uma réplica do Leicester City, clube modesto que venceu o último campeonato inglês. Outros defendem que “há que estar muito louco para apostar neles para vencer”. Outros ainda adoptam uma posição mais expectante e esperam para ver o que a equipa “canarinha” vai fazer nas próximas semanas.

No nordeste da Grande Canária mora o Las Palmas, uma equipa que tem feito estragos na Liga do país vizinho. Depois do estrondoso 2-4, em Valência, e do esclarecedor 5-1, frente ao Granada, a equipa treinada por Quique Setién (antigo jogador espanhol, que foi convocado, mas não utilizado, no Mundial México 86) ocupa a liderança do campeonato espanhol. A “manita”, na segunda jornada, tornou líder uma equipa que desde 1978-79 não sabia o que era dormir no topo da classificação. E o registo de golos foi superado: nunca tinham feito nove golos nos dois primeiros jogos e têm mais golos do que Atlético Madrid, Villarreal, Alavés, Athletic Bilbau, Celta, Osasuna e Leganés … juntos. Um dos golos – o de Kevin-Prince Boateng – foi apenas o 1300.º golo do Las Palmas na Liga.

O Las Palmas tem mostrado que quer jogar com bola e atacar, lançando até os laterais para posições bastante adiantadas e procurando chegar ao ataque com muita gente. Na frente, jogadores como Jonathan Viera, K.P. Boateng, Livaja ou El Zhar procuram dar a criatividade que qualquer líder de campeonato deve ter.

E é nos nomes que compõem esta equipa que reside uma das particularidades deste conjunto. O plantel está repleto de “canteranos” e apenas 30% dos jogadores são estrangeiros (um deles é o português Hélder Lopes, lateral ex-Paços de Ferreira). No Las Palmas, Jonathan Viera é o “rei da festa”. Ele sabe-o e os companheiros também. Todo o jogo ofensivo passa pelo jogador de 26 anos e é ele quem faz jogar a equipa, com a ajuda do talentoso El Zhar e com a segurança dada pela “carraça” Roque Mesa.

Mas isto não chegaria para tornar o Las Palmas líder de um campeonato como o espanhol (ainda que objectivo da época não seja esse). Por isso, o clube foi buscar dois jogadores problemáticos, inconstantes, mas muito talentosos. Primeiro, Marco Livaja. Um avançado croata promissor – que “roubou” a titularidade ao também talentoso Sérgio Araújo – e que, depois de passagens pouco felizes por alguns clubes italianos (o Inter de Milão emprestou-o, ano após ano) e pelo Rubin Kazan, procura confirmar as credenciais que lhe foram atribuídas.

Mas a grande surpresa veio com a chegada de Kevin-Prince Boateng. A equipa das Canárias protagonizou uma das transferências mais faladas deste Verão e adquiriu o internacional ganês. Apesar de todos lhe reconhecerem talento no pé direito (e no esquerdo, com o qual também sabe jogar), Prince tem um largo historial de lesões, de problemas extra-futebol e de relatos de ser mau para o balneário. O irmão de Jérôme Boateng, que chegou a ser dado como certo no Sporting, tem, no Las Palmas, aquela que pode ser uma das últimas oportunidades de jogar num dos principais campeonatos.

Até agora, aquela que era considerada uma transferência perigosa está a revelar-se uma aposta acertada e Boateng já convenceu a “afición” do Las Palmas, que lhe dedicou uma grande ovação, no último jogo, e que vê, nos pés do ganês, um pouco de Juan Carlos Valerón. Sim, esse mesmo.

Se precisar de mais motivos para gostar deste Las Palmas, saiba que este clube da Grande Canária foi o primeiro e último da carreira de Juan Carlos Valerón. Um dos jogadores mais talentosos da história do futebol espanhol, que se retirou na última temporada, foi formado no emblema “canarinho“ e regressou, em 2013, para terminar a carreira no “seu” Las Palmas.

Uma equipa que era considerada uma “bomba-relógio”, com alguns dos jogadores que tem no balneário, está a revelar-se uma agradável surpresa. Resta saber até quando é que este clube humilde conseguirá manter-se agarrado à liderança da La Liga, fugindo aos “tubarões” Barcelona, Real Madrid e Atlético. 

Sugerir correcção
Comentar