Em Pohnpei, havia uma bola e pouco mais

A história de dois ingleses que queriam ser internacionais e acabaram como treinadores da selecção de uma pequena ilha do Pacífico.

Foto
DR

Existem 209 equipas no ranking FIFA, da Alemanha, que está em primeiro lugar, com 1669 pontos, até San Marino e Butão, ambas empatadas no último lugar, sem qualquer ponto. Esta classificação actualizada mensalmente pelo organismo que tutela o futebol mundial pareceu um bom ponto de partida para dois amigos ingleses que queriam ser jogadores internacionais. Algures em 2009, Paul Watson e Matt Conrad foram ver quem era o último classificado desse ranking. Era Guam. Depois, foram ver quais as equipas que a selecção desta ilha do Pacífico tinha derrotado. Chegaram a Yap, uma ilha dos Estados Federados da Micronésia. Finalmente, viram a listagem de jogos de Yap e apenas um adversário nunca lhe conseguira ganhar.

Watson e Conrad tinham chegado ao seu “El Dorado” futebolístico, que é como quem diz, a pior selecção do mundo, onde até dois ingleses sem experiência futebolística seriam, pensavam eles, titulares indiscutíveis. Não foram. Mas a história não acaba aqui. Estava apenas a começar. O alvo era Pohnpei, uma ilha no Pacífico, que integra os Estados Federados da Micronésia, com cerca de 34 mil habitantes. Os dois ingleses contactaram a federação de futebol da ilha e receberam uma resposta. O presidente ia estar em Londres e marcou uma reunião. O que lhes ofereceram não foi a titularidade garantida na equipa mas algo muito melhor: a possibilidade de serem eles próprios os treinadores.

“No início, o que queríamos era mais uma história engraçada para contar no pub. Depois, quando fomos à ilha é que percebemos que podíamos contribuir a sério e não ser apenas para benefício próprio”, conta Conrad, cuja única qualificação para ser treinador era um curso de paramédico promovido pela federação inglesa. Os dois pagaram a viagem a Pohnpei do seu próprio bolso, tiveram todo o apoio e voluntarismo do Comité Olímpico da Micronésia, mas faltava tudo o resto e nem sequer eram pagos. “Tivemos de começar pelo básico”, recorda Watson, um jornalista desportivo.

As coisas evoluíram rapidamente. A dupla conseguiu estabelecer uma rotina de treinos para os jogadores e conseguiu pô-los em forma, algo, à partida, bastante difícil numa ilha onde a obesidade era um problema. Conseguiram até que se organizasse um pequeno campeonato local. “É isto que é fantástico no futebol, não é preciso muito para criar uma comunidade de pessoas que gostam de futebol. Só é preciso haver uma bola”, diz Conrad. Mas era preciso dar mais um salto. Os jogadores precisavam de ter estímulo competitivo e a dupla de treinadores decidiu que iriam fazer uma digressão a Guam. Felizmente que alguém da família de Conrad tinha uma pequena companhia área e patrocinou a viagem.

Dezoito meses depois de Watson e Conrad terem aterrado em Pohnpei, a selecção por eles treinada iria conseguir a primeira vitória da sua história, derrotando uma equipa do campeonato de Guam por 7-1. “Tínhamos aquela estatística horrível de nunca termos ganho um jogo. Quando soou o apito final, foi um momento de enorme orgulho”, recorda Conrad. A aventura deste par inglês deu um livro, “Up Pohnpei”, e vai dar um documentário, realizado pelo próprio Conrad, que ainda está à procura de financiamento para o completar. Quanto a Watson, foi treinar um clube para a Mongólia, desta vez com um salário.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

Sugerir correcção
Comentar