Desporto com Educação?

1. É cíclico como os actos eleitorais para a Assembleia da República. Onde fica o desporto no Governo? Nós próprios já fizemos um balanço, há uns anos, das soluções recolhidas pelas diversas orgânicas dos Governos constitucionais.

Crê-se comummente que a "localização"» governamental do desporto, bem como o perfil do membro do Governo responsável por essa área, podem denotar, a priori, se essa realidade social merecerá a atenção que entende reclamar ou se, pelo contrário, o desporto se vê menorizado no início de um novo Governo.

2. O exercício, partindo de algo que aparenta ser meramente formal, pode revelar-se inútil em face do agir concreto, no futuro, desse membro do Governo. Contudo, não podemos deixar de reconhecer alguma validade na leitura atenta e crítica daquilo que cada Governo entende dever ser a "localização política" do desporto. Assim sendo, digamos algo sobre a presença do desporto sob a alçada do Ministro da Educação e, em forma “delegada”, num Secretário de Estado da Juventude e do Desporto.

3. Alguns pontos prévios. É prática política – e por isso aplicada também ciclicamente – que tudo ou quase tudo mudar aquando de uma alternância governativa. Esta mudança – tipo pegada – estende-se, inclusive, aso aspectos formais e denominações. Para já tal não acontece com o secretário de Estado da Juventude e do Desporto. Por outro lado, quanto aos conhecimentos (e experiência) da área do desporto de que dispõem, quer o ministro da Educação, quer o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, não surgem carregados de referências. Porventura regista-se precisamente a ausência de qualquer menção reflexiva sobre o desporto. Porém, bem se sabe, que esse não é critério decisivo para se ser membro responsável por qualquer área da governação. Acresce que de desporto, todos sabem.

4. Um último aspecto prévio: a manutenção dessa ligação (umbilical?), entre a Juventude e o Desporto. Continuamos a entender como errada essa solução, não obstante o discurso constitucional que privilegia o desporto na idade jovem. O desporto é muito mais do que juventude.

5. Dito isto, encontrando-se, pois, o desporto no Ministério da Educação, assiste-se a uma revolução? Não. Curiosamente essa solução organizativa, quando acolhida, foi mais pelo PSD e pelo CDS do que pelo PS. O PS foi, aliás, o único que chegou a criar – por muito pouco tempo – um ministério. O PS, por outro lado, sempre recolheu soluções de integração do desporto adentro da Presidência do Conselho de Ministro (ministro Adjunto ou ministro da Presidência). Esse mesmo caminho foi ultimamente percorrido pelo PSD/CDS.

6. Aqui, sim, é que se coloca a questão, nos termos que no início demos conta. O que é mais valioso para o desporto, uma localização política forte (ministro Adjunto, ministro da Presidência) ou num ministério como o da Educação caracterizado por uma imensidão de problemas e questões a exigirem respostas urgentes?

7. Que o desporto é Educação não nos restam dúvidas. Só que o Desporto não é só Educação, sendo certo, porém – aqui furtando palavras de voz amiga –, que há muito desporto – em particular alguns agentes do futebol – que bem precisam de Educação.
 

josemeirim@gmail.com

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